sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Sobre o filme «Blade Runner 2049» de Denis Villeneuve, 2017















Tenho de ser justo, «Blade Runner 2049» não é um mau filme, apenas tenho de esquecer que revi «Blade Runner: Perigo Iminente» de Ridley Scott (1982).
E o problema maior é que eu tenho esse filme bem vincado na memória. E o presente (futuro) deste segundo filme não merece o romantismo desfasado e anacrónico, belamente desfeado, para sempre marcado pela estilizada «replicant» Rachael (Sean Young) que devolve a vida humana ao humano «blade runner» Rick Deckard (Harrison Ford) quando se apaixonam e, por erro de fabrico, perde o prazo de validade ficando a desconhecer quando morrerá. Tal como os humanos.
Porque Ryan Gosling, o mais recente canastrão do cinema americano, não consegue levar o seu blade runner a nenhum confronto emocional com o espectador. Harrison Ford, que também nunca terá sido a nata do expressionismo, acabou por nos dar esse bruto contraponto com o inexplicável mau Roy Batty (Rutger Hauer), oferecendo à solidão desagregada de Los Angeles, suja e chuvosa, um desespero sem causa.  Mas isso era em 1982, com Ridley Scott, ao som de Vangelis. Agora o som é uma colagem mais barata de Benjamin Wallfisch e Hans Zimmer, e os cenários são todos plastificados pela nova tecnologia. Brilhantemente sujos, assepticamente húmidos.
Valha-nos as cenas no decrépito e amarelento casino, a morada de Rick Deckard, uma espécie de cenário construído por Wes Anderson.
Resta-nos também a interpretação de Robin Wright.
Porque terá a ficção científica no cinema de hoje de estar subjugada a estes efeitos especiais tão lisos e puros, que impedem os filmes de saltar por cima da moral de histórias à Walt Disney?
Por isso, continuo a defender a ficção científica de «Uma História de Amor» de Spike Jonze (2013) com Joaquin Phoenix e a voz de Scarlett Johansson.

Mas, no final, repito para ser justo, até estive bastante entretido durante os 163 minutos de «Blade Runner 2049».

jef, outubro 2017


«Blade Runner 2049» de Denis Villeneuve. Com Harrison Ford, Ryan Gosling, Ana de Armas, Jared Leto, Mackenzie Davis, Robin Wright, Dave Bautista, Sylvia Hoeks, Carla Juri, Barkhad Abdi, David Dastmalchian, Hiam Abbass. Música: Benjamin Wallfisch e Hans Zimmer. EUA / Grã-Bretanha / Canadá, 2017, Cores, 163 min.

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