quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Sobre o disco «Bop Till You Drop» de Ry Cooder, Warner, 1979













Elogio do grande americano.
Existe um conjunto de músicos, cuja personalidade artística, coerência, imaginação, evolução e longevidade das suas carreiras, os colocam numa espécie de altar profano onde se escutam as mais belas facetas do Ser Humano. Lá encontramos Duke Ellington ou Miles Davis, rodeados de estrelas mais jovens, Tom Waits, Brian Eno, David Byrne ou Chico Buarque. São entes cuja obra ultrapassou os limites da suspeição e os seus futuros discos são desfrutados com a alegre ansiedade de os vermos chegar às prateleiras das discotecas (ou, agora, à legal piratagem do spotify). Por entre a galeria de criativos musicais, encontramos alguém que tem dedicado a vida a iluminar os melhores caminhos da música popular americana e, mais recentemente, da música de todos os continentes. Ry Cooder.

Após a universal divulgação do velho e extraordinário mundo crioulo e diverso de «Buena Vista Social Club» (1997), é importante reparar a injustiça de um certo esquecimento da sua actividade como musicólogo, prestando homenagem ao autor da banda sonora de «Paris Texas» (1985).

Ry Cooder tem de ser redescoberto também pelo rigor etnográfico, pela devoção à causa musical. Ry Cooder, guitarrista-cantor-compositor ou compositor-cantor-guitarrista, constrói um disco único com «Bop Till You Drop». Cada versão destas canções, símbolos de um pedaço maior da Grande América, torna-se a apologia teórica e feliz das raízes da soul, do gospel, do rhythm’n’blues, do jazz e da alegria da música negra, tal como antes tinha já exaltado os benefícios do blues, da country, do rock, da música tex-mex ou da música das tribos índias.

Ouvir este disco é conhecer um fascículo importante da «História Fundamental da Música Tradicional da América e do Mundo», escrita com a humildade e a generosidade que só o virtuosismo de um grande guitarrista permite.

Viva Ry Cooder!

jef, setembro 1997 / novembro 2017

(in D.I.S.C.O. nº 21)

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