terça-feira, 7 de novembro de 2017

Sobre o filme «Para Além do Paraíso» de Jim Jarmusch, 1984

















A solidão da chegada.
Ou como Eva (Eszter Balint), vinda de Budapeste, não é recebida por Willie (John Lurie), seu primo. Ou como Eddie (Richard Edson), amigo de Willie, repara em Eva. Ou como os dois amigos partem de carro, com o bolso cheio de dólares ganhos ao póquer (com bluff), em busca de Eva que foi viver com a tia Lotte (Cecilia Stark).
Afinal, um filme sobre a solidão das chegadas e de um certo fim dos sonhos de juventude. Apesar de tudo, o oposto de «Jule e Jim» de François Truffaut (1962) e «Bando à Parte» de Jean-Luc Godard (1964). Apesar de tudo, três filmes em hipótese e tese.
Afinal, para quê partir se tudo é igual em todo o lado?
Nova Iorque – Cleveland – Florida.

Este filme destrói a esperança com o humor sub-reptício das curtas cenas separadas por slides negros para oferecer ao espectador o tempo de as digerir, estética e cognitivamente, e entender como é possível fazer uma comédia sobre a desilusão e as eternas falsas partidas.

O diálogo com o amedrontado, zangado ou febril, operário fabril. A bisca jogada com a tia Lotte. A beleza branca do lago de Cleveland. A balada «I Put a Spell on You» de Screamin Jay Hawkins, a sair de um leitor de cassetes.

Na realidade, nada mais estranho do que o Paraíso.

jef, novembro 2017


«Para Além do Paraíso» (Strager than Paradise) de Jim Jarmusch. Com John Lurie, Eszter Balint, Richard Edson, Cecillia Stark, Danny Rosen, Tom DiCillo. Música: John Lurie. EUA, 1984, P/B, 89 min.

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