domingo, 1 de dezembro de 2019

Pedro Castro Henriques! As palavras e as pessoas.






Agora que estou a chegar ao 600º texto colocado neste blogue, tenho de dar lugar a alguém que comprova a minha teoria ‘La Palice’ de que ‘o melhor das palavras, escritas ou não, é mesmo as pessoas’ e, de entre todas, as melhores são os amigos que se tornam cúmplices e justificam, pescadinha de rabo na boca, os próprios textos que escrevemos.

Pedro Toda a Gente, acrítico literário, alter ego do grande Pedro Castro Henriques, no dia 23 de Novembro, na Biblioteca Camões, por ocasião da apresentação do primeiro livro editado pel’A Morte do Artista’, «O Ciclo Curvo das Noites» de Paulo Romão Brás & João Eduardo Ferreira, levanta-se e diz, resumino melhor que ninguém esta tarefa de ilustrar e escrever qualquer coisa que tem a importância que cada momento lhe dá ou lhe retira.

Serve ainda o mesmo momento, antes de passar a palavra ao acrítico literário, Pedro Toda a Gente (PTG), para afirmar que gostamos muito de ti, PCH (Pedro Castro Henriques).

jef, dezembro 2019

a ler vamos:

«Agradeço aos autores a confiança depositada num anónimo leitor do pictórico e do literário colocando-me na posição de uma amiga do João Eduardo Ferreira, mulher de vários predicados que, anos atrás, aquando do lançamento de um livro me sussurrava ‘o João escreve tão bem… mas eu não percebo nada do que ele diz!’ Opiniões. Nem o autor se incomoda com o leitor, nem o leitor se incomoda com o autor. Livro comprado, cada qual faz dele o que melhor lhe aprouver.

«O Sr. Toda a Gente olha desconfiado para o negro da capa, tem dificuldade em ler o título e pensa desde logo na morte do artista. O Sr. Toda a Gente vê quando vê e lê quando lê o que significa que, feitas as contas, vê pouco e lê pouco mas lá se o faz bem ou mal, não sei. O Sr. Toda a Gente lida com as coisas simples da vida que por serem simples até se reduzem a siglas: FMI de Fundo Monetário Internacional, ATN de Autoridade Tributária Nacional, PSP de Polícia de Segurança Pública, SNS de Serviço Nacional de Saúde e mais umas quantas. Para o Sr. Toda a Gente as coisas simples da vida dificilmente rimam com ilustrações ou escritas. O Sr. Toda a Gente até admite que ilustração e escrita rimem com as coisas simples da vida mas isso, pensa ele, é coisa para iluminados. Mas o Sr. Toda a Gente, por razões que a razão desconhece como diria o outro, adquiriu O Ciclo Curvo das Noites um pouco influenciado pela filha, a Verinha, que deu para ir para letras e lhe azucrina o espírito com intelectualices. Adiante. Aberto o livro, o Sr. Toda a Gente raciocina, organiza-se para avançar ou para desistir de vez.

«E eis o Sr. Toda a Gente confrontado com Paulo Romão Brás
São dezasseis páginas ou meias horas que somam as oito horinhas que a OMS (Organização Mundial de Saúde) e diversas autoridades exigem de dormida ao Sr. Toda a Gente. Essa dezasseis páginas resumem o próprio ciclo turvo das noites do Sr. Toda a Gente a oscilar entre breves períodos de sono profundo e outros tantos repentes em que o quotidiano se mete onde não é chamado. Ora Paulo Romão Brás (ainda não é PRB para o Sr. Toda a Gente, portanto não faz parte das coisas simples da vida), faz-nos entrar redondadamente na cama na p.1, que é como o Sr. Toda a Gente entra na cama, tirando-nos da mesma, quadradamente, na p.16, que é como o Sr. Toda a Gente sai da cama. ‘O gajo viu bem a coisa, diz para consigo próprio o Sr. Toda a Gente, e até nas cores…’ Há uns negros, o 4975C do Pantone (o Sr. Toda a Gente trabalha na Fernandes – sector ‘desenho’), à mistura com muitos azuis, a oscilarem no Pantone entre o 290C e o 2736 C. O branco não incomoda o Sr. Toda a Gente que o tem por ausência de côr. ‘À noite é assim, conclui o Sr. Toda Gente, o azul da serenidade e o negro do medo’ como ouviu há dias na TV. Paulo Romão Brás não escreve, ilustra o que para o Sr. Toda a Gente explica o porquê do mesmo não ter direito a paginação numerada. Se ‘uma imagem vale mil palavras está-se mesmo a ver o tamanho que o livro iria ter!’ E está a parte de ilustração despachada!

«O Sr. Toda a Gente detém-se agora em João Eduardo Ferreira.
«O Sr Toda a Gente, como português de lei (recordo, trabalha na Fernandes) diz-se vítima do quotidiano, não sabendo como o enfrentar nem como convencer os demais para o que quer que seja que ponha em causa os seus hábitos quotidianos. O Sr. Toda a Gente anda enervado. Perturbam-no as histórias de clima com que agora o massacram, a despensa, a despensa ainda lhe mata a fome mas…, a fechadura lá de casa, mais apostada em abrir do que fechar ou vice-versa, quando abre a boca por via de regra sai asneira, não sabe o que fazer dos brinquedos (as bonecas com que a Verinha brincava e que agora, desde que se deu às letras…) nem tem opinião segura sobre as aulas, sonha não fazer nenhum e quanto ao aturar da vizinhança nem se fala. Na leitura, coisa que pouco pratica, o Sr. Toda a Gente procura respostas. Em O Ciclo Curvo das Noites inclinou-se a princípio para A agenda (p.54), ‘deixa ver se é como a minha’. Mas não, a agenda do livro em nada se aparentava à sua – sobra da Fernandes – não percebeu mesmo a passagem em que se diz ‘porque escreves nesta agenda de merda?’ Mas o Sr. Toda Gente (tinha que rentabilizar o livro) descobriu que João Eduardo Ferreira tem remédio para muito daquilo que o apoquenta e ao Sr. Toda a Gente, remédio sem título, é certo, e que nem sequer consta do Registo Nacional de Medicamentos. A bula (caso fosse pontifícia vendia-se que nem pãezinhos quentes) publicada na p.30 não passou desapercebida ao Sr. Toda a Gente que a elegeu como seu poema favorito. (Definir estratégias / Propor consensos / Estabelecer prioridades / Manter a calma. Avaliar a pressão atmosférica / Abastecer a despensa / Mudar as fechaduras / Calar a boca. Vestir as bonecas / Faltar às aulas / Arregaçar as mangas / e Matar o vizinho.). ‘Mais claro não se pode ser’, concluiu o Sr. Toda a Gente ciente de ter programa em que pensar. ‘Enfim, remédios… acrescentou o Sr. Toda a gente… a seguir assim este sacana vai longe na ´política!’ E não é que o Sr. Toda a Gente concluiu ter compreendido a mensagem de João Eduardo Ferreira e pondo-a em prática a partir da última estrofe! Matou o vizinho. Qual o problema? Nem o autor se incomoda com o leitor, nem o leitor se incomoda com o autor. Livro comprado, cada qual faz dele o que melhor lhe aprouver.

Pedro Toda a Gente, acrítico literário


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