sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Sobre o filme «Graças a Deus» de François Ozon, 2018
















Este filme é uma ficção baseada em factos reais. Avisam-nos no início. Na região de Lyon, o padre Bernard Preynat (Bernard Verley) abusou recorrentemente de dezenas (ou centenas) de jovens escuteiros que tinha à sua guarda. Os factos ocorreram nas décadas de 1980-1990 mas só vieram a público em 2014-2015. A denúncia dos crimes, o confronto com a cumplicidade assumida da hierarquia católica e a posterior acção judicial, é iniciada por Alexandre (Melvil Poupaud), a que depois se juntam François (Denis Ménochet), Gilles (Éric Caravaca), Emmanuel (Swann Arlaud) e muitos outros.

O filme tem uma rapidez entusiasmada de mestre, podendo dizer-se que é quase um filme epistolar pois, enquanto decorre toda a sequência de peripécias narrativas, vamos escutando em voz off o teor de múltiplos e-mails trocados e de cartas guardadas mais ou menos em segredo. Poupa François Ozon tempo e filme, ganha o espectador em expectativa cinéfila. Tudo decorre nas mãos e na expressão de um monte de belíssimos actores.

Um filme político de denúncia de crimes exumados da cripta perversa, mórbida e criminosa, de uma igreja católica que não sabe olhar e gerir a sexualidade das suas confrarias com a necessária naturalidade. Justiça seja feita ao Papa Francisco que, com tanta resistência , tem vindo a dar cada vez mais atenção judiciária ao assunto!

Um filme inteligente, escorreito e firme mas que não tem tempo de expressar a vocação emocional que outros tantos filmes de François Ozon já demonstraram.

jef, outubro 2019

«Graças a Deus» (Grâce à Dieu) de François Ozon. Com Melvil Poupaud, Bernard Verley, Denis Ménochet, Swann Arlaud, François Marthouret, Éric Caravaca, Bernard Verley, Martine Erhel. Argumento: François Ozon. Fotografia: Manuel Dacosse. França / Bélgica, 2018, Cores, 137 min.

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