quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Sobre a inauguração da exposição «Movimentos que Oscilam entre Formas Regulares» de Paulo Romão Brás. Galeria Lilliput. Bar Flor do Tejo. Cais de Vila Franca de Xira. 8 de Dezembro 2019 a 12 de Janeiro de 2020














Ilustrando o abstracto.

Na arte existe a superfície e o resto. Como nos perfis geológicos quando a Terra esconde o que tem dentro da crosta. Paulo Romão Brás procura com exactidão esse ponto de contacto entre o visível e o invisível, entre o que é presente e estamos agora a olhar e o que vai sendo transformado, geologicamente, pela memória.

Max Ernst (1891-1976), nascido na Alemanha, mobilizado na primeira guerra mundial, artista “degenerado” e proscrito pelos nazis, não era alemão, nem depois americano, parisiense. Nem cubista, surrealista, expressionista. Viu-se obrigado na década de 1920 a rasgar as páginas de catálogos ilustrados sobrepondo-lhes as imagens para descobrir os interstícios do seu passado.

Como Max Ernst, que recorria à grafite para riscar sobre o papel revelando a textura gráfica da superfície “invisível” da madeira (frottage), Paulo Romão Brás dá uso à arte labiríntica de agente secreto e falsificador de ídolos, e coloca à nossa frente uma cortina de cabos que suspendem fios de caricas metálicas. Para entrar no espaço ténue entre o passado e o presente, devemos afastar a cortina e entrar numa taberna do Alentejo sideral. Assim, o espaço cronológico fica apartado entre essa memória rural e um falso futuro urbano.

Dois trabalhos (100 x 70cm) revelam-se face a face. Ou, repito, escondem-se face a face. Porque são rostos de um passado a preto e branco que tentam emergir em plano primeiro enquanto o recorte e colagem de «papéis de catálogo» gritam, coloridos, papelinhos de carnaval anacrónico, que ainda não é tempo de revelar as identidades. Apenas o brilho do artifício.

Por isso, Paulo Romão Brás escreve: Movimentos que Oscilam entre Formas Regulares. À nossa frente apresenta-se, peremptória, uma pequena escultura em contraponto conclusivo, alegando que é com ela que o nosso olhar se inicia. Pelo movimento das figuras que se expõem entre as fissuras de uma memória assustada pelo presente que não sabe o que vai ser. «Nightmare before Christmas» mas no abstracto. Com ela, a nossa conclusão principia e o ‘catálogo’ de Paulo Romão Brás começa a ser rasgado.

«Movimentos que Oscilam entre Formas Regulares»
Galeria Lilliput. Bar Flor do Tejo. Cais de Vila Franca de Xira

João Eduardo Ferreira
Dezembro 2019

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