quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Sobre o filme «Fátima» de Marco Pontecorvo, 2020



























O que me espanta neste filme é o permanente e credível clima de desconfiança, perseguição, opressão, medo, angústia e solidão a que estão expostas as três crianças: Lúcia (Stephanie Gil), Jacinta (Alejandra Howard) e Francisco (Jorge Lamelas) numa aldeia perdida entre a primeira guerra e uma república que, a custo, tentava erguer-se da miséria e da bancarrota. Um clima que nunca é desmentido, bem pelo contrário, fica sancionado por Lúcia, muito mais tarde e em clausura coimbrã, numa magnífica composição de Sónia Braga, mulher segura, provocadora, quase atrevida, quando é confrontada por Nichols (Harvey Keitel), escritor que investiga as famosas aparições marianas em Portugal. A todas as questões colocadas, ela contrapõe: «Só é preciso ter fé, só é preciso acreditar.» E com esta frase o caso recebe um ponto final irredutível, de modo tão coerente e pragmático quanto ilusório e alienado.

Sem dúvida um caso particular no cinema de orientação religiosa que deixará os crentes de cara à banda e os incréus com um sorriso amarelo nos lábios. Também um caso sério de representação de Lúcia Moniz, Carla Chambel, Joaquim de Almeida, João D'Ávila, Elmano Sancho, Ana Moreira, ou até, (espantemo-nos com o impressionante elenco!) de Luísa Cruz ou Isabel Ruth.


jef, agosto 2021

«Fátima» (Fatima) de Marco Pontecorvo. Com Sónia Braga, Harvey Keitel, Lúcia Moniz Joaquim de Almeida, Goran Visnjic, Stephanie Gil, Alejandra Howard, Jorge Lamelas, Marco D'Almeida, Joana Ribeiro, Carla Chambel, Elmano Sancho, João D'Ávila, Iris Cayatte, João Arrais, Simão Cayatte, Ivo Alexandre, Ana Moreira, Isabel Ruth, Luísa Cruz, Carla Bolito. Argumento: Marco Pontecorvo, Valerio D'Annunzio e Barbara Nicolosi. Produção: Stefano Buono, Rose Ganguzza, Marco Pontecorvo. Fotografia: Vincenzo Carpineta. Música: Paolo Buonvino. Portugal / EUA, 2020, Cores, 113 min.

 

Sem comentários:

Enviar um comentário