O
que me espanta neste filme é o permanente e credível clima de desconfiança, perseguição,
opressão, medo, angústia e solidão a que estão expostas as três crianças:
Lúcia
(Stephanie Gil), Jacinta (Alejandra Howard) e Francisco (Jorge Lamelas) numa
aldeia perdida entre a primeira guerra e uma república que, a custo, tentava
erguer-se da miséria e da bancarrota. Um clima que nunca é desmentido, bem pelo contrário, fica
sancionado por Lúcia, muito mais tarde e em clausura coimbrã, numa magnífica
composição de Sónia Braga, mulher segura, provocadora, quase atrevida, quando é
confrontada por Nichols (Harvey Keitel), escritor que investiga
as famosas aparições marianas em Portugal. A todas as questões colocadas, ela
contrapõe: «Só é preciso ter fé, só é preciso acreditar.» E com esta frase o
caso recebe um ponto final irredutível, de modo tão coerente e pragmático
quanto ilusório e alienado.
Sem
dúvida um caso particular no cinema de orientação religiosa que deixará os
crentes de cara à banda e os incréus com um sorriso amarelo nos lábios. Também
um caso sério de representação de Lúcia Moniz, Carla Chambel, Joaquim
de Almeida, João D'Ávila, Elmano Sancho, Ana Moreira, ou até, (espantemo-nos
com o impressionante elenco!) de Luísa Cruz ou Isabel Ruth.
jef,
agosto 2021
«Fátima»
(Fatima) de Marco Pontecorvo. Com Sónia Braga, Harvey Keitel, Lúcia Moniz Joaquim
de Almeida, Goran Visnjic, Stephanie Gil, Alejandra Howard, Jorge Lamelas, Marco
D'Almeida, Joana Ribeiro, Carla Chambel, Elmano Sancho, João D'Ávila, Iris
Cayatte, João Arrais, Simão Cayatte, Ivo Alexandre, Ana Moreira, Isabel Ruth,
Luísa Cruz, Carla Bolito. Argumento: Marco Pontecorvo, Valerio D'Annunzio e
Barbara Nicolosi. Produção: Stefano Buono, Rose Ganguzza, Marco Pontecorvo.
Fotografia: Vincenzo Carpineta. Música: Paolo Buonvino. Portugal / EUA, 2020,
Cores, 113 min.
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