quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Sobre o filme «Pauline na Praia» de Éric Rohmer, 1983






























As férias de Verão, junto ao mar ou à beira de um lago, no dolce far niente onde se espraiam o desejo e o ciúme, o mal-entendido e o amor primordial. O cenário propício para Éric Rohmer dar largas às suas magníficas diversões filosóficas sobre o poder sedutor e a recusa à respectiva sujeição.

O tema parece invariável mas a subtileza do realizador ao traduzir o âmago do afecto e a tendência da paixão para o efémero torna cada filme num acto de profundo prazer e de pura lógica.

Nesta comédia, confrontam-se quatro visões opostas sobre o amor à beira-mar: a irresistível divorcia Marion (Arielle Dombasle) que oferece umas férias à sua prima Pauline (Amanda Langlet), uma adolescente que parece ter uma visão mais adulta que os restantes, Pierre (Pascal Greggory) um professor de windsurf que leva muito a sério a sua paixão por Marion e Henri (Féodor Atkine), antropólogo, pai de uma menina pequenina, sedutor muito viajado e leviano. Como contraponto deste jogo surge a seriedade do adolescente Sylvain (Simon de La Brosse) e a divertida vendedora de amendoins Louisette (Rosette).

«Quem muito fala, ouve o que não quer» aparece como epígrafe no filme que apenas se distancia das comédias de enganos de Beaumarchais pois aqui existe uma menos política seriedade, fina e despudorada, que percorre todo o filme e culmina quando Marion e Pauline, no final, juram uma para a outra guardarem para si a versão que melhor lhes convém.

Sigamos os passos das suas mais francas ilusões.

jef, outubro 2021

«Pauline na Praia» (Pauline à la Plage) de Éric Rohmer. Com Amanda Langlet, Arielle Dombasle, Pascal Greggory, Féodor Atkine, Simon de La Brosse, Rosette. Argumento: Éric Rohmer. Produção: Margaret Ménégoz. Fotografia: Néstor Almendros. Música: Jean-Louis Valéro. França, 1983, Cores, 95 min.

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