As férias de Verão, junto
ao mar ou à beira de um lago, no dolce far niente onde se espraiam o desejo e o
ciúme, o mal-entendido e o amor primordial. O cenário propício para Éric Rohmer
dar largas às suas magníficas diversões filosóficas sobre o poder sedutor e a
recusa à respectiva sujeição.
O
tema parece invariável mas a subtileza do realizador ao traduzir o âmago do
afecto e a tendência da paixão para o efémero torna cada filme num acto de profundo
prazer e de pura lógica.
Nesta
comédia, confrontam-se quatro visões opostas sobre o amor à beira-mar: a irresistível divorcia Marion (Arielle Dombasle) que oferece umas férias à sua prima Pauline
(Amanda Langlet), uma adolescente que parece ter uma visão mais adulta que os
restantes, Pierre (Pascal Greggory) um professor de windsurf que leva muito a
sério a sua paixão por Marion e Henri (Féodor Atkine), antropólogo, pai de
uma menina pequenina, sedutor muito viajado e leviano. Como contraponto deste
jogo surge a seriedade do adolescente Sylvain (Simon de La Brosse) e a divertida
vendedora de amendoins Louisette (Rosette).
«Quem
muito fala, ouve o que não quer» aparece como epígrafe no filme que apenas se
distancia das comédias de enganos de Beaumarchais pois aqui existe uma menos
política seriedade, fina e despudorada, que percorre todo o filme e culmina
quando Marion e Pauline, no final, juram uma para a outra guardarem para si a
versão que melhor lhes convém.
Sigamos os passos das suas mais francas ilusões.
jef, outubro 2021
«Pauline
na Praia» (Pauline à la Plage) de Éric Rohmer. Com Amanda Langlet, Arielle
Dombasle, Pascal Greggory, Féodor Atkine, Simon de La Brosse, Rosette. Argumento:
Éric
Rohmer. Produção: Margaret Ménégoz. Fotografia: Néstor Almendros. Música: Jean-Louis
Valéro. França, 1983, Cores, 95 min.
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