quinta-feira, 12 de maio de 2022

Sobre o filme «Conto de Inverno» de Éric Rohmer, 1992




















Este conto (ou fábula ou parábola) apresenta, talvez, um das mais complexas personagens femininas de Éric Rohmer: Félicie (interpretada por uma mesmo genial Charlotte Véry) que vive sem amargura para um amor passado, fixado na memória pela crença na reminiscência de um Verão encantado, e por isso eternamente juvenil e amoroso. Como âncora e produto real dessa recordação mágica, Félicie tem a seu cargo, amoroso e genético, Elise (Ava Loraschi), uma menina de cinco anos, com a qual vive em casa de sua mãe (Christiane Desbois). Mas a absoluta crença no porvir não lhe permite ligar-se em definitivo ao bibliotecário filósofo Loïc (Hervé Furic) ou ao cabeleireiro Maxence (Michel Voletti) que a amam verdadeiramente. Para ela, é tudo uma questão de tempo. Um tempo credor do próprio tempo, compensador, salvador, que faz Félicie emocionar-se até às lágrimas quando assiste à representação de «Conto de Inverno» de Shakespeare, também ele credor da eterna esperança num futuro alicerçado na vontade férrea do passado.

Sim, «Conto de Inverno» de Éric Rohmer é um filme mágico, terno e muito simples. Tão simples quanto seja acreditarmos todos os dias num futuro bom.


jef, maio 2022

«Conto de Inverno» (Conte d’Hiver) de Éric Rohmer. Com Charlotte Véry, Frédéric Van Den Driessche, Michel Voletti, Hervé Furic, Ava Loraschi, Christiane Desbois, Rosette, Jean-Luc Revol, Haydée Caillot, Jean-Claude Biette, Marie Rivière. Argumento: Éric Rohmer. Produção: Margaret Ménégoz. Fotografia: Luc Pagès. Música: Sébastien Erms. França, 1992, Cores, 114 min.

               

Sem comentários:

Enviar um comentário