quarta-feira, 9 de novembro de 2022

Sobre o filme «O Casamento de Maria Braun» de Rainer Werner Fassbinder, 1979.







Um filme rápido, ágil, veloz. Hollywoodesco ao modo de Fassbinder. Como ele vê o futuro da Alemanha Ocidental após a guerra, entre os escombros de uma velha sociedade destruída, na voragem do poder e na ascensão do seu novo ritmo, voraz. Fassbinder entrega a Hanna Schygulla o poder feminino de edificar essa nova moral, esse novo dogma, esse novo amor.

Por causa da guerra e da mobilização militar, Maria Braun poucas horas passa com o marido, Hermann Braun (Klaus Löwitsch) mas, após aquela terminar acredita que ele regressará, contudo não se resigna nem ao destino, nem ao que a sociedade parece estar a reservar-lhe. Vencerá agarrando todos os truques, todos os subterfúgios, toda a crença de que é capaz de lá chegar. Nada a detém. Mesmo quando o marido regressa e a vê envolvida com um soldado americano. Maria mata o amante, Hermann dá-se como culpado. Por amor. Maria singrará no mundo milagroso dos negócios alemães do pós-guerra. Vai para a cama com o patrão, Karl Oswald (Ivan Desny), tornam-se amigos e amantes. E Karl entrega dinheiro a Hermann, na prisão, às escondidas, para que ele possa sair da Alemanha e regressar com a vida restabelecida. Maria e Hermann Braun amam-se mas tornam-se desconhecidos um do outro. Maria Braun continua a trepar pelos escombros de uma cidade que se reconstrói à imagem da própria Maria Braun.

Um filme que nega veemente a parábola de Fassbinder que afirma “o amor é mais frio do que a morte”. Contudo, no final, a transformação de uma quase comédia em puro melodrama, assegura que Fassbinder nunca deixou de questionar o futuro da sociedade, do cinema e do amor.

Um filme que parece simples mas que também é escrito nas entrelinhas de um diálogo exuberante e cristalino.

Um dos filmes, senão o filme, de Hanna Schygulla.


jef, novembro 2022

«O Casamento de Maria Braun» (Die Ehe der Maria Braun) de Rainer Werner Fassbinder. Com Hanna Schygulla, Klaus Löwitsch, Gisela Uhlen, Ivan Desny, Elisabeth Trissenaar, Gottfried John, Hark Bohm, George Eagles, Claus Holm, Günter Lamprecht, Anton Schiersner, Lilo Pempeit, Sonja Neudorfer, Volker Spengler, Isolde Barth, Rainer Werner Fassbinder. Argumento: Pea Fröhlich, Peter Märthesheimer. Produção: Wolf-Dietrich Brücker, Volker Canaris. Guarda-roupa: Barbara Baum. Fotografia: Michael Ballhaus. Música: Peer Raben. RFA, 1979, Cores, 89 min.

 

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