quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

Sobre o filme «Três Cores: Branco» de Krzysztof Kieslowski, 1994


 







Não sei por que razão, este filme, revisto no grande ecrã cerca de 30 anos depois, recordou-me o filme de Vittorio De Sica «O Milagre de Milão» (1951). Karol Karol (Zbigniew Zamachowski), o polaco que se vê espoliado do casamento, da casa em Paris, do seu grande amor, Dominique (Julie Delpy), regressa a casa do irmão, na Polónia, ajudado pelo jogador de bridge Mikolaj (Janusz Gajos). Mal vestido e angustiado, à porta do tribunal onde receberá a sentença de divórcio, um pombo voa e acaba por lhe sujar a gabardina poida. Tudo parece conjugar-se para entabular uma tragédia definitiva.

Qualquer coisa (de palhaço pobre) em Karol se assemelha ao supostamente miserável adolescente Totò (Francesco Golisano), recém-nascido encontrado numa horta entre repolhos nos subúrbios milagrosos de Milão.

E tal como neste filme, afinal também Karol, aproveitando a aura de ingenuidade quase infantil, possui dotes e poderes de mover a montanha da bondade para que a sociedade em seu redor cresça em harmoniosa concórdia e justiça social, derrotando meliantes e oportunistas.

Afinal, «Três Cores: Branco» é uma comédia inspiradora, quase filme de suspense, onde o amoroso e desvalido palhaço pobre se transforma em amoroso e triunfante palhaço rico.

Um filme sobre o interior ficcional de cada um de nós, fotografado sobre a neve por Edward Klosinski e musicado pela melodia quase judaica da partitura de Zbigniew Preisner. Um filme claro e auspicioso.


jef, janeiro 2023

«Três Cores: Branco» (Trois couleurs: Blanc) de Krzysztof Kieslowski. Com Zbigniew Zamachowski, Julie Delpy, Janusz Gajos, Jerzy Stuhr, Aleksander Bardini, Grzegorz Warchol, Cezary Harasimowicz, Jerzy Nowak, Jerzy Trela, Cezary Pazura, Michel Lisowski, Philippe Morier-Genoud, Piotr Machalica, Francis Coffinet, Barbara Dziekan. Argumento: Krzysztof Kieslowski, Krzysztof Piesiewicz. Produção: Yvon Crenn, Marin Karmitz. Fotografia: Edward Klosinski. Música: Zbigniew Preisner. França, 1994, Cores, 91 min.

Sem comentários:

Enviar um comentário