quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

Sobre o filme «Três Cores: Vermelho» de Krzysztof Kieslowski, 1994














É mesmo impossível não ligar este filme à «Janela Indiscreta» de Hitchcock (1954). E o curioso, mesmo que Kieslowski não o tenha feito de propósito, é que a misteriosa (maravilhosa) empatia envidraçada de James Stewart e Grace Kelly, um misto de suspense, intriga, fotogenia sublime, voyeurismo, enlace amoroso-erótico, também existe na tensão existente entre a juventude grácil de Irène Jacob, Valentina, uma modelo de olhar quase inocente quase adolescente, perdida entre amores também eles envidraçados pelas janelas ou pelo ciúme, e o velho juiz aposentado, solitário, ressabiado, invasor de privacidades telefónicas, que deixa fugir a cadela para que esta seja atropelada e, assim, se encontre com Valentina. Nesta trama tão simples e novelesca, o empedernido juiz é um soberbo Jean-Louis Trintignant que, mais pelo olhar e o silêncio do que por palavras, sai do casulo rancoroso para se entregar ao carinho amoroso da modelo. A cena da troca de uma frágil lâmpada fundida e as pedras que estilhaçam as janelas invadindo as velhas salas, são metáforas extraordinárias.

E se «A Janela Indiscreta» pode ser a epígrafe desta fábula eterna sobre a fraternidade e o amor, a respectiva e exigível moral do conto está nas lágrimas finais do juiz ao escutar o desfecho e o salvamento do naufrágio do ferry que atravessa o lago Léman.


jef, janeiro 2023

«Três Cores: Vermelho» (Trois Couleurs: Rouge) de Krzysztof Kieslowski. Com Irène Jacob, Jean-Louis Trintignant, Frédérique Feder, Jean-Pierre Lorit, Samuel Le Bihan, Marion Stalens, Jean Schlegel, Juliette Binoche, Benoît Régent, Zbigniew Zamachowski, Julie Delpy. Argumento: Krzysztof Kieslowski, Krzysztof Piesiewicz. Produção: Marin Karmitz, Yvon Crenn. Fotografia: Piotr Sobocinski. Música: Zbigniew Preisner. Suiça / França, 1994, Cores, 99 min.

 

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