Telhados de vidro e fractais.
Este filme é sobre «inteligência natural». Duvido, aliás, que
exista «inteligência artificial», agora que já ninguém põe em causa que gatos,
cães, cavalos, golfinhos, galinhas, formigas, humanos, usam, naturalmente e a
seu modo, a inteligência que lhes compete. «Inteligência artificial» só para os
filmes de ficção científica.
Mas poder-se-á, hoje em dia, fazer-se bons filmes de ficção
científica? Sim. Este é um exemplo muito razoável. Apesar de parecer blasfémia compará-lo a «2001, Odisseia no
Espaço» (Stanley Kubrick, 1968) ou «Blade Runner» (Ridley Scott, 1982), a
atracção pelo mundo dos andróides anda por ali. Talvez demasiado perto…
O ‘computador’ Ava adiciona a vocação para o controlo e a manipulação de HAL
9000 à sedução de Rachael, aquela que, por erro de fabrico, desconhecia a data
de sua morte.
Mas na memória do filme fica a capacidade de um argumento para
demonstrar que a suspeita e a mentira são a energia fatal que corrompe a confiança
e o «estado de vidro» dos afectos e da própria sobrevivência. Não faltam aqui, ainda, a
banda sonora particular (Geoff Barrow e
Ben Salisbury), as paisagens norueguesas, a arquitectura transparente a lembrar
uma célebre casa de chá nortenha ou as habitações de montanha de um tal Frank
Lloyd Wright.
E se não existe a natural inteligência de gatos, cães,
cavalos, golfinhos, galinhas, formigas, humanos, também não será uma qualquer «Inteligência
Ex Machina» que, no final do drama, nos virá salvar!
[E por favor, não saiam do cinema antes de terminar o
genérico final – a fragilidade geométrica dos «fractais».]
Sobre o filme «Ex Machina» de Alex Garland (2015). Com Alicia Vikander, Domhnall Gleeson, Oscar Isaac.
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