«Adeus a Matiora», realizado por Elem Klimov sobre a ideia de
Larisa Shepitko, sua mulher (falecida num acidente de viação), afasta-se de
Tchekov e aproxima-se de Shakespeare. Violentamente.
É um filme sobre a mortalha e o remorso que sobre ela recai.
Sobre a morte e os fantasmas perseguidores que vai
deixando para trás.
Sobre a culpa e o medo de não sobreviver à memória. A verdade
é a memória, diz-se.
Sobre o sacrifício de uma Aldeia submersa pelas águas de uma
barragem; a defesa de um carvalho secular imolado pelo fogo; a salvação das
campas dos antigos, dos samovares, das reses, das batatas, do musgo.
Sobre a mulher e a água, a terra, o fogo, as cinzas.
Sobre a Mãe, ícone russo e universal, ser material e etéreo. Sobre
a Mãe-Terra querida. Aqui, ela é Daria que, escondida, reza por uma terra defunta,
enquanto os aldeãos dançam loucos com os camaradas que chegaram para ajudar a ceifar
o derradeiro feno.
O centro é a belíssima, a magnífica Daria. Sublime interpretação
de Stefaniya Stanyuta que, em cena inesquecível, lava os restos mortais de
sua casa.
Um requiem sobre o que nós fizemos perder, em consciência, e
que não voltará mais. Shakespeare fala da culpa e do remorso. Klimov, de
arrependimento e do grito desesperado de quem se perdeu definitivamente nas águas
e no nevoeiro.
Grandioso filme!
jef, junho 2016
«Adeus a Matiora» (Proshchanie) de
Elem Klimov. Com Stefaniya Stanyuta, Aleskei Petrenko, Lewonid Kryuk. URSS,
1983, Cores, 112 min.
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