Anton Tchékhov é o autor do tempo depois do tempo. Escreve
sobre aqueles cuja memória e o relógio aprisionaram num espaço sem solução. Imutável.
Mesmo que a emancipação feminina se apresente, a revolução espreite ou as
ideias novas sobre a floresta e o equilíbrio do clima estejam aí. A família e a
inelutável hierarquia feudal. Sobre tudo, o cansaço imenso da vida e do amor
por realizar.
Andrei Konchalovsky coloca as personagens sob o calor que invade
a casa por janelas envelhecidas. No cenário, as portas vão rangendo, os vidros
partem-se, alguns livros são lidos. As folhas que anunciam novidades são rasgadas. Um mapa de África que anuncia viagens.
O médico parte, os outros também. Voltam a ficar juntos, mas sós.
O Tio Vânia e a sobrinha retomam a contabilidade urgente. O
ábaco faz as vezes de clepsidra, a cor desvanece-se no ecrã. Apesar do fim anunciado, a tundra surge como esperança da
floresta.
Descansaremos.
Depois sim, felizmente poderemos descansar.
jef, junho 2016
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