terça-feira, 21 de junho de 2016

Sobre o filme «O Tio Vânia» de Andrei Konchalovsky, 1971























Anton Tchékhov é o autor do tempo depois do tempo. Escreve sobre aqueles cuja memória e o relógio aprisionaram num espaço sem solução. Imutável. Mesmo que a emancipação feminina se apresente, a revolução espreite ou as ideias novas sobre a floresta e o equilíbrio do clima estejam aí. A família e a inelutável hierarquia feudal. Sobre tudo, o cansaço imenso da vida e do amor por realizar.
Andrei Konchalovsky coloca as personagens sob o calor que invade a casa por janelas envelhecidas. No cenário, as portas vão rangendo, os vidros partem-se, alguns livros são lidos. As folhas que anunciam novidades são rasgadas. Um mapa de África que anuncia viagens. 
O médico parte, os outros também. Voltam a ficar juntos, mas sós.
O Tio Vânia e a sobrinha retomam a contabilidade urgente. O ábaco faz as vezes de clepsidra, a cor desvanece-se no ecrã. Apesar do fim anunciado, a tundra surge como esperança da floresta.
Descansaremos.
Depois sim, felizmente poderemos descansar.

jef, junho 2016

«O Tio Vânia» (Dyadya Vanya) de Andrei Konchalovsky. Com Irina Anisimova-Wulf, Serguei Bondarchuk, Irina Kupchenko, Yekaterina Mazurova. URSS, 1971, Cores P/B, 104 min.

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