«A única galinha empalhada do mundo», refere Nadezhda
Petrukhina (Maya Bulgakova) olhando o animal, enquanto se passeia pelo museu.
Ali se expõem, juntamente com despojos de mamutes, o seu nome e a sua imagem
como aviadora-heroína soviética na Grande Guerra. Agora Nadya é directora de
uma escola e pede alguém em casamento. Ri.
Com este filme, Larisa Shepitko acaba de vez com o
neo-realismo ou com o realismo-socialista ou com a aproximação a qualquer outro
realismo.
Tal como a Nouvelle Vague usou a paixão pelo cinema
americano, Hitchcock em particular, para realçar o existencialismo e atribuir
às personagens a sombra de ícones modernistas, aqui o humor truncado surge em
permanência na figura austera da directora da escola. Um Senhor Hulot trágico-cómico consciente de que a vida raras vezes leva ao lugar certeiro mas que
transporta, por hipótese, uma brisa de mudança. Talvez apenas um sorriso.
A cena em que, sob o calor, tenta lavar os frutos que
transporta nas mãos mas a torneira não colabora e, logo depois, é encharcada
por um forte aguaceiro, é o belíssimo exemplo! Enquanto todos fogem, Nadya
sorri e apresenta os frutos à chuva.
É um filme sobre a resistência ao tédio,
sobre um certo modo de olhar o dia-a-dia,
sobre o poder da liberdade e da esperança.
jef, junho 2016
🌧 Entre muitas cenas Incríveis, a inicial é Maravilhosa, uma cena marcante é quando Nadezhda Petrukhina, ao ser surpreendida pela chuva, sorri e oferece os frutos que carregava para o céu. Parece pouco, mas é ali que percebemos que, mesmo diante de tanto peso, a liberdade e a leveza ainda são possíveis.
ResponderEliminar💭 O filme nos lembra que, muitas vezes, ficamos presos a dores e histórias antigas, enquanto a vida segue pedindo para olharmos para o presente. Será que o que você busca está no agora, e não no que ficou para trás? @reginamarquescoach