sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Jano


 Jano

Na morte, a saudade, com o tempo,
transforma-se em rigor de ausência,
essa espécie de rigidez fúnebre a que outros,
mais voluntariosos, dão o nome de
esquecimento.

Jano, Senhor de Lácio, sabe-o,
tem ele duas faces. Uma olhando para a frente,
outra para trás. Vive na transição.
Sabe escolher. Vive em Janeiro. Gosta do começo eterno.
Também de portas. Não gosta de trancas.
Viaja de barco e toma decisões.

Jano, Senhor de Lácio, não teme o fim.
Tem ele duas máscaras. Uma de longas barbas,
outra imberbe. Cunha moedas
de duas faces também,
que podem ser atiradas ao ar
mas nunca encaradas,
olhos nos olhos.

Jano, senhor de Lácio, reconhece-o,
vive em paz sem se encarar.
Toma o facto por natureza de sabedoria.
O esquecimento e a saudade também
não se chegam, não se tocam,
mas viajam, pacíficos,
pelos ciclos findos das noites e dos dias.


jef, fevereiro 2017

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