Se não se incomoda com filmes meio-policiais e fins pouco
ortodoxos; se gostou de «A Dama de Xangai» (Orson Welles, 1947), «Festim Nu»
(David Cronenberg, 1991), «Inland Empire» (David Lynch, 2006) ou dos policiais
truncados com que a Nouvelle Vague homenageia o cinema americano, então vá ver o
filme. Mas se o enerva ver Joaquin Phoenix (‘Doc’ Sportello) a representar o
papel que ele anda a treinar há alguns anos, continuará enervado. Porém, existe
uma enormíssima vantagem. A cada uma das cenas encadeadas em que Joaquin
Phoenix fuma mais um charro, revira os olhos ou se despenteia cuidadosamente, dá
entrada à interpretação de mais um extraordinário actor / actriz. E são muitos!
A cada nova cena parece que Phoenix desaparece para dar lugar ao outro.
Generosidade maior de um grande actor, apesar de tudo. Nesse ponto, o filme brilha
nas três magníficas cenas em que o actor contracena com Katherine Waterston (a sua
desaparecida Shasta Fay Hepworth), sublinhando o início, o meio e o epílogo do
filme. O filme está ganho! Mas temos mais. Temos ainda a particularíssima voz
off da particularíssima harpista / cantora Joanna Newson (Sortilège), a banda
sonora sinfónica de Jonny Greenwood e, claro, duas canções de Neil Young. O
filme está longe de ser o culto que andam a apregoar mas só para apreciar
alguns dos diálogos que por ali se ouvem, já valeu a pena.
jef, fevereiro 2015
«Vício Intrínseco» (Inherent
Vice) de Paul Thomas Anderson .Com Joaquin Phoenix, Josh Brolin, Owen Wilson,
Katherine Waterston, Reese Witherspoon, Benicio del Toro, Jena Malone, Joanna
Newsom e Martin Short. EUA,
2015, Cores, 148 min
Sem comentários:
Enviar um comentário