A hipérbole do drama
Ao conhecermos a tragédia de Alan Turing, o matemático inglês
que desmontou a brutal máquina de códigos nazi Enigma através do seu computador
Christopher, ajudando a travar o tempo ignóbil da Segunda Grande Guerra, e o
assassinato consequente de milhões de inocentes, temos a noção de como a
humanidade lida confortavelmente com a injustiça pura. A injustiça na esfera pública e
política, a injustiça no plano privado e identitário.
Mas será possível fazer um filme consistente sobre um herói maior
e essa tal injustiça humana, abusando cinematograficamente de diálogos hiperbólicos
(e voz off), de múltiplos flashbacks, da saturação fotográfica da luz-contraluz
torneando cantos e recantos, da repetida fleuma britânica de Benedict
Cumberbatch (que não consegue fugir ao Sherlock Holmes), da «certinha» e
circunstancial banda sonora de Alexandre Desplat? Espantosamente parece-me que
sim: o filme tem de ser visto!
O realizador fá-lo com uma nítida intensão política, alertando
mentalidades com extensas notas finais (hiperbólicas), recordando a História
opaca, hiperbolicamente atroz. Já que o drama como figura de retórica é
hiperbólico, os gregos sabiam-no.
(Sem esquecer a geometria, com os seus cones atravessados por
planos e as linhas curvas a quase tocarem dramaticamente as assímptotas).
Nota: este texto, segundo o meu prontuário ortográfico, saiu
cheio de exageros estilisticos, acumulando pleonasmos adjectivantes. Peço
desculpa!
jef, janeiro 2015
«O Jogo da Imitação» (The Imitation Game) de Morten Tyldum. Com Benedict Cumberbatch, Keira Knightley, Matthew
Goode. EUA/Grã-Bretanh, 2014, Cores, 114 min.
Sem comentários:
Enviar um comentário