quarta-feira, 4 de abril de 2018

Sobre o filme «O Capitão» de Robert Schwentke, 2017
















Estamos em Abril de 1945. Alemanha. O país está em cacos, cercado a Leste e Oeste pelos aliados. No exército germânico as deserções são muitas e os desertores são um novo alvo do estupor, brutalidade e, agora, no fim da guerra, da desorientação nazi.

Os 20 minutos iniciais revelam todo o filme baseado na verdade de um soldado desertor, Willi Herold de 19 anos, que encontra uma farda imaculada de capitão e ao envergá-la descobre-se numa nova pele de liderança, numa alma nova de sobrepoder e tirania. A fotografia de Florian Ballhaus é extraordinária. A banda sonora e a música original de Martin Todsharow é inquietantemente expressionista. A interpretação do actor Max Hubacher é à cinema mudo: vibrante e intensa, digamos, esculpida.

O problema é que o filme fica exactamente por aí. A partir daí cai numa sucessão de cenas de maus-tratos, fúrias e esgares, de violência gratuita, que não sublinha a verdade que a história contém, nem valoriza os contornos estéticos que deveria ter para dar substância ao horror de uma época sem paralelo na história contemporânea.

E fazer ficção não é exactamente realizar um documentário histórico. Necessitamos de enquadrar, não de extrapolar a mais dura realidade em sequências risíveis ligadas aos efeitos especiais, à estrutura quase de comédia de certas cenas que deveriam ser brutais emborasensíveis.

Sobre este mundo de trauma e morte, que jamais dever ser esquecido, não seria admissível realizar um tal genérico final, onde a companhia militar justiceira de Willi Herold, entra motorizada na actualidade de uma cidade alemã para ir maltratar e saquear os transeuntes perplexos, em jeito de 'apanhados'. Repito, na actualidade.

Quando se trata de acontecimentos tais, a estética e a ética devem ser rainhas. Há que pensar e sentir duas vezes.

jef, abril 2018.

 «O Capitão» (Der Hauptmann) de Robert Schwentke. Com Max Hubacher, Milan Peschel, Frederick Lau, Alexander Fehling, Bernd Hölscher, Waldemar Kobus, Britta Hammelstein. Música: Martin Todsharow; Fotografia: Florian Ballhaus. Portugal / Polónia / Alemanha / França, 2017, Cores, 118 min.

Sem comentários:

Enviar um comentário