quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Sobre o livro «O Papagaio de Flaubert» de Julian Barnes. Quetzal, 2010. Tradução: Ana Maria Amador.

 













A questão do papagaio embalsamado.
O espécime que faz companhia a Gustave Flaubert enquanto escreve «Un Coeur Simple» e que vai acompanhar Félicité. Chamado ‘Lulu’. Também este, na história, acaba embalsamado a sobrevoar o sonho final da pobre alma. Afinal, quantos animais empalhados existirão entre Ruão e Croisset? Geoffrey Braithwaite é um académico estudioso, fã, quase groupie, do autor francês que contestava a popularidade do autor em detrimento da leitura da respectiva obra. Julian Barnes segue Geoffrey Braithwaite que segue Gustave Flaubert até à coloração desmaiada das penas dos diversos ‘Lulu’.

O que espanta neste livro é, exactamente, esta tropelia irónica de Julian Barnes em levar-nos pelo caminho intenso, tortuoso, contraditório, implicativo, aparentemente misógino, quase misantropo, mas inteligentíssimo, do autor de «Madame Bovary», fazendo-nos acompanhar o percurso de Braithwaite que, de modo muito sagaz, lembra a história de Ema e Carlos Bovary.

Pelo meio, temos a sátira a académicos e críticos literários, a análise cirúrgica de um autor e de uma época literária absolutamente fascinantes.
Um romance arguto e minucioso para quem gosta de literatura.
Julian Barnes é um escritor fundamental.
Gustave Flaubert, claro, também.
      
jef, outubro 2018

Sem comentários:

Enviar um comentário