domingo, 28 de outubro de 2018

Sobre o disco «Vai e Vem» de Márcia, Márcia / Warner, 2018
















São doze temas de um certo pop-lento, quase slow-dance, que parecem vir de um tempo em que não havia problema em misturar o lado sinfónico da orquestra e o princípio rock da guitarra eléctrica.

Quase todas as canções são mínimas e não excedem os 3 minutos e meio, como se estivessem prontas para ser incluídas, duas a duas, no lado A ou no lado B de um single. Momento, pausa e batida, coros longínquos, eco imperceptível e uma ternura esbatida, uma triste nostalgia por algo que já não volta ou que se deseja esquecer. Quase última valsa. Perfeito para concluir a noite quando o barman ou o disco-jockey começa a olhar para as horas.

Quase todas mínimas, quase, pois «Vai e Vem» deve dar espaço ao conjunto orquestral das cordas, permitindo depois a entrada discreta mas ainda mais cénica e acústica da guitarra; e «Ao Chegar» que cumpre o caminho certo e longo da guitarra que, não fosse eléctrica, quase viria cumprir algum desígnio de certo trip-hop esquecido.

Tudo parece antigo, íntegro e sincero, e acima de tudo calorosamente pop, sem medo das palavras inteligentes em rimas que facilitam o movimento, esse modo de dançar uma angústia, ou saltar por cima de uma ausência. Porém, tudo isto, hoje em dia, sem baias ou dogmas, é muito moderno! 

Bem diz Manuel Halpern, no Jornal de Letras de 24 de Outubro, e com ele repito: os duetos com António Zambujo, Samuel Uria e Salvador Sobral são bons, mas se não existissem, as canções de Márcia permaneceriam com força igual, o mesmo cariz.

Um bom disco que se ouve sem cessar.

jef, outubro 2018

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