terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

Sobre o filme «Trabalhos de Casa» de Abbas Kiarostami, 1989

























Não haverá muito a dizer sobre aquilo que começa por ser explicado pelo próprio realizador como alguma coisa que não tem guião, nem ele saberá se resultará num filme. Talvez seja a tentativa de perceber a motivação (e os desaires) dos trabalhos de casa escolares feitos no seio da própria família.

Um miúdo sorridente pede que lhe tirem uma fotografia. Kiarostami pergunta o nome da escola. Senta-se depois numa secretária, faz baixar a luz para que o seu rosto fique na sombra. O homem da câmara de filmar é Iraj Safavi. 

Os pequenos alunos são entrevistados sobre a carga de trabalhos que levam para casa, quem os ajuda, como e quando os fazem. Antes ou depois dos desenhos animados: Pinóquio ou Charlie Chaplin. Como são castigados. Como não são incentivados. No pátio, uma multidão de rapazinhos entoam um cântico meio-religioso meio-bélico, mas o som desaparece pois a coisa não parece estar a correr bem.

Um professor viajado explica como aquele método de ensino está completamente errado.

Estamos em 1988 e Irão e o Iraque apresentam mutuamente as garras da guerra.

Alguns querem ser engenheiros ou médicos. Querem matar Saddam. Por fim, as lágrimas do pânico são substituídas pela espiritualidade de um cântico aprendido de cor. O pai não o pode ajudar.

Não existe filme mais comovente sobre a possibilidade trágica do ensino ou a impossibilidade afectiva da educação.


jef, fevereiro 2023

«Trabalhos de Casa» (Mashgh-e Shab) de Abbas Kiarostami. Com Babak Ahmadpoor, Farhang Akhavan, Mohammad Reza, Abbas Kiarostami, Iraj Safavi. Argumento: Abbas Kiarostami. Produção: Ali Reza Zarrin. Fotografia: Ali Asghar Mirzaie, Farhad Saba, Iraj Safavi. Música: Mohammad Reza Aligholi. Irão, 1989, Cores, 86 min.

 

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