sexta-feira, 27 de setembro de 2024

Sobre o filme «Grand Tour» de Miguel Gomes, 2024

 




 

















Como um grande piscar de olho às viagens de Júlio Verne, Miguel Gomes entrega o passaporte à imagem que corre lesta sob os nossos olhos enquanto vamos perseguindo a perseguição que Molly (Crista Alfaiate) faz ao seu noivo Edward (Gonçalo Waddington) que foge a sete pés de Rangum, na Birmânia, mal sabe da sua chegada, para depois passar por todas as latitudes orientais. A voz off conta a história na língua do país que vamos olhando. A narração e a leitura dos telegramas pertencem a 1918, porém as imagens são de uma época muito para cá, talvez contemporâneas, não sabemos. Pouco sabemos, aliás. O cenário é real mas a ficção assenta-lhe bem. Quase não precisamos de lhe dar atenção, porque a fotografia é rainha e o som é rei. A música descentra a narrativa.

Também em «As Aventuras de um Chinês na China» de Júlio Verne ou «Tokyo-Ga» de Wim Wenders (1985) o exotismo e a estranheza que provoca o ambiente oriental a um ocidental são temas maiores. A discrepância temporal e a perturbação cenográfica e sonora fez-me lembrar muito vagamente a linha operática de um dos filmes do meu coração: «O Navio» de Federico Fellini (1983).


 jef, agosto 2024

«Grand Tour» de Miguel Gomes. Com Gonçalo Waddington, Crista Alfaiate, Cláudio da Silva, Lang Khê Tran, Jorge Andrade, João Pedro Vaz, João Pedro Bénard, Teresa Madruga, Joana Bárcia, Diogo Dória, Jani Zhao, Manuela Couto e Américo Silva. Argumento: Mariana Ricardo, Telmo Churro, Maureen Fazendeiro, Miguel Gomes. Produção: Allan Ekelund. Fotografia: Rui Poças AIP ABC, Sayombhu Mukdeeprom, Gui Liang. Som: Som: Vasco Pimentel, Li Kelan. Portugal / França / Itália / Alemanha / Japão / China, 2024, P /B e Cores, 128 min.

 


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