No
âmbito do Festival de Jazz de Londres, novembro de 2023, Mayra Andrade acompanhada apenas a guitarra acústica de Djodje Almeida, sobem ao palco e gravam ao vivo estas 18 canções, oferecendo-as ao público assim numa linha pura onde a voz e as cordas da guitarra vão fazendo uma conversa que se solta das raízes
cabo-verdianas libertando-as para o singelo devaneio do jazz e da batida do coração. A
voz do coração, simplesmente. A grande parte dos temas vêm dos álbuns de
originais «Lovely Difficult» e «Manga» (Sony, 2013, 2019).
Aqui,
dentro de certo eco (ou mesmo espiritualidade) oferecidos pelo espaço da Union Chapel, “Plena”
ou “Navega” ou “Kodé” surgem como que a
cappella, soltando-se a voz madura de Mayra Andrade da base das cordas percutidas
de Djodje Almeida, e vice-versa, tornando-se numa espécie de comunicação poética
sobre as palavras cantadas, uma vibração sónica muito íntima entre a música e os
poemas de uma profunda simplicidade.
O
que mais espanta em Mayra Andrade é a capacidade de fazer a música de Cabo
Verde uma conquista sua, reconhecível por única, apropriando-se dela através de um modo muito especial:
modernista, eléctrico ou agora de modo apenas acústico, um certo modo muito urbano e cosmopolita.
(Embora
Mayra não a cante aqui neste disco ao vivo, o último álbum de originais contém
uma canção linda, linda “Guardar Mais” que vou a correr ouvir e re-ouvir no dia
de hoje, 19 de novembro, que faz um ano que morreu Sara Tavares. É de sua
autoria e conta e canta a saudade que sente da sua avó Eugénia.)
jef, novembro 2024
Sem comentários:
Enviar um comentário