Existe
qualquer coisa falhada neste filme. Sugere que a realizadora terá deixado as
personagens-actrizes um pouco ao deus-dará. Elas que carregam toda a sua vida
passada no interior da sua vida presente. Elas que encenam o próprio
percurso, a sua condenação, os medos e desejos para o futuro, dentro ou
fora da prisão onde estiveram encerradas.
A
pandemia inutilizou a ideia original de as filmar dentro da realidade
prisional presente, adiando o projecto. Então, posteriormente, Lola Arias convoca agora as ex-presidiárias,
libertadas, para nos mostrarem as suas experiências de cárcere num filme musical, aligeirando-as no inóspito espaço de um estabelecimento prisional arruinado
em Buenos Aires.
E,
de facto, todas as actrizes-personagens parece estarem confortáveis e alegres nesse
aligeiramento musical do seu passado, contudo o espaço é demasiado grande, a
encenação, a marcação de cena e a sequências das cenas parecem ser timídas, pobres,
talvez forçadas, deixando o possível entusiasmo dos números musicais fora da
nossa emoção, longíssimo da nossa adesão social e cinéfila. E como aquelas
mulheres mereciam mais do nosso coração.
Somente na sequência final existe plasticidade cinematográfica, digamos mistério afectivo e teatral, real comédia, numa câmara que, de tão próxima, nos faz crer uma coisa e, depois, num distanciar de drone nos revela afinal um cenário completo. (A propósito. Jamais esquecerei a cena final de «O Navio» de Federico Fellini…)
jef,
novembro 2024
«Reas»
de Lola Arias. Com Yoseli Arias, Ignacio Amador Rodriguez, Estefanía
Hardcastle, Noelia Perez, Carla Canteros, Paulita Asturayme. Argumento: Lola
Arias. Produção: Gema
Juárez Allen, Clarisa Oliveri. Fotografia: Martín Benchimol. Música: Ulises
Conti. Argentina / Suiça /Alemanha, 2024, Cores, 82 min.
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