domingo, 18 de maio de 2025

Sobre a exposição «Espuma, Ruído e Atonia (2020-2025)» de Paulo Romão Brás. Inaugura a 22 de Maio na Biblioteca Camões, em Lisboa











Espuma, Ruído e Atonia (2020–2025)

Paulo Romão Brás

 

O tempo e a sua estrutura.

Feita de atmosfera, a estrutura da espuma está suspensa entre a química das moléculas e as forças da respectiva física. A espuma é uma espécie de nada que se pulveriza com o tempo. Quando observada de perto, tem a sua arte. Efémera.

Existe uma frase repetida de Schopenhauer que diz que a música traduz a maior filosofia através de uma linguagem que a razão não compreende. O ruído, tal como a música, é igualmente uma ligação irracional, com uma estrutura ainda mais incompreensível, que o tempo não consegue aprisionar idiomaticamente, fazendo-o desaparecer no momento imediato.

Por outras palavras, tanto a espuma como o ruído (e a música) sofrem de acentuada atonia, de uma lassidão atómica, de uma fraqueza muscular. Não se podem esculpir, polir, agarrar e colocar sobre o aparador para que as visitas, convidadas para o jantar, possam admirar.

A arte e o seu tempo.

A obra de Paulo Romão Brás contraria essa vacuidade temporal, surgindo como se de um pêndulo a oscilar se tratasse, sistematicamente, entre a sombra que surge da profundidade da fotografia rasurada e o brilho definido pela cor solar. Os limites de um recorte planificado a duas dimensões, por uma colagem imposta pelas matérias física e digital. Penumbra e contorno, sombra e colorido, balançando com o pêndulo do relógio de parede exposto na sala.

O tempo com o seu tempo.

Kurt Schwitters, nos anos 40 do século XX, riscava já o tempo com a arte, colando figuras e letras, refazendo o abecedário da pintura, castigando a textura da própria evolução artística, hostilizando o expressionismo, o cubismo, o dadaísmo. Kurt Schwitters provoca o minuto presente no seu quotidiano.

Ao contrário, «Espuma, Ruído e Atonia», apresentando 24 obras realizadas entre os anos 2020 e 2025, está bem ciente do minuto que a assiste, sublinhando-o, não o provocando. Estas obras redefinem o limite dos espaços e a sólida arquitectura das linhas de fuga que vêm de um passado assumido. Relembre-se «Coisa Perene Entre a Casa e o Crânio» (Galeria do IAC, Angra do Heroísmo, 2019), «O Ciclo Curvo das Noites» (A Morte do Artista, 2019) ou «Camera» (LP, Knok Knok, 2024).

A arte com a sua arte. A função estruturalista.

Com «Espuma, Ruído e Atonia», Paulo Romão Brás não pretende quebrar o vidro do relógio, antes convidar-nos a relembrar um tempo em que o artista e sua arte estiveram confinados epidemiologicamente, clinicamente. Um tempo em que o tempo ficou sem estrutura, parado, mas onde a função do homem como artista esteve a cargo do mundo que o envolve, por sistema. Ou seja, pela ética, ou melhor pela respectiva linguagem comum, a que se pode chamar: Estética.

Sintam-se convidados. O jantar é servido.


Biblioteca Camões, Lisboa

Inauguração: 22 de maio de 2025 (quinta-feira) - 18:30.

Patente até 20 de junho de 2025


jef, 18 de maio de 2025

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