Não
pensei que a country desapareceu ou que a América profunda e combativa se finou
no escape de um Tesla ou pendurada na gravata encarnada do outro. A mais profunda e combativa música
de Willi Carlisle vem do extremo da sua terra, chamada Arkansas, trazida na bolsa marsupial dessa criatura de nome “critter”. Dentes aguçados e língua
viperina, numa pata a pistola, na outra, a Bíblia, pelo meio, um bando de
dólares esvoaçando.
“They
think I’m a queer or a communist
But
I’ll go along to get along, ‘cause it feels so right.”
Canta
Willi Carlisle na canção de abertura, um hino ao amor e à liberdade de escolha.
Mas não se pense que as restantes nove canções são mais hinos à capacidade de
amar numa fuga directa para o interior harmonioso da natureza humana.
“Father forgive me
for what I have done
Drove
200 miles for six inches of love
And
what I called love affair
They
say was a death of despair”
Canta
em “When the Pills wear off”, uma prece pelo perdão ou pela redenção. Ou nessa
ode à diferença “Two Headed Lamb”. Quando descobrirem a aberração do cordeiro será morto
pelo fazendeiro. Por enquanto, na noite, ele está vivo, protegido pelo amor da
mãe, vendo o dobro das estrelas! Ou o lamento profundo “The Arrangments”:
“He was dead inside my head long
before he died
It’s
allright, I’m my own father now”
Terminando nessa longa expiação, um monólogo meio falado meio cantado, “The Money Grows on Trees” sobre
as vicissitudes sofridas por um passador de droga.
Afinal
a minha América ainda é grande. Essa minha América que confunde os acordes, a
luta e a fina e amorosa linha melódica das velhas canções folk ou country
(Bob Dylan, Pete Seeger, Woody Guthrie, Willie Nelson, Johnny Cash ou mesmo
Gonzalez ou Don McLean).
Afinal,
ainda podemos respirar de alívio. A América Vive!
(Mas
não chamem a Willi Carlisle queer ou communist. Ele apenas vive, compõe e canta
como bem entende!)
jef, maio de 2025
Sem comentários:
Enviar um comentário