No dia em que soube da morte de João Queiroz (1957-2025), esse
aguarelista das doces paisagens do absurdo, visito a exposição das obras
concebidas por João de Azevedo (1950-2020) a pedido de José Afonso para o álbum
«Com as Minhas Tamanquinhas» (1976). Algo de delírio visionário, cromático e
definitivo, qualquer coisa de plástico e onírico, careto transmontano, ave-rara,
medusa e espectro animista de uma África alucinogénia. Talvez ainda o sopro
gélido e róseo na sombra de um nórdico Thor em hibernação, Ícaro levitado. As
cores enchem o espaço e a nossa imaginação. A alegria do figurativo desfigurado
e fulgurante das peças de João Azevedo contra a triste notícia da memória do aquoso
mundo verde-cinzento, quase concreto quase granítico, a desaparecer no abstracionismo
do pincel plácido de João Queiroz.
O único modo de preservarmos a nossa alma numa triste, húmida,
tropical tarde de uma leitosa Lisboa, a abarrotar de turistas basbaques, é
mantermos no coração as cores e os traços de João de Azevedo, a névoa que
cobre a possível floresta de João Queiroz.
jef, 22 de outubro de 2025
«Com as Minhas Tamanquinhas, A obra de João de Azevedo na obra
de José Afonso.
Biblioteca Camões, Largo do Calhariz, 17, Lisboa.
9 a 31 de Outubro de 2025
Curadoria e design expositivo: José Teófilo Duarte
Programação: Biblioteca Camões / Lithales Soares
Design de Comunicação, produção e montagem: DDLX







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