sexta-feira, 8 de abril de 2016

A Traição, a Intimidade, o Conceito. A Sombra das Mulheres. Continuação.













A Traição, a Intimidade, o Conceito.

Retalio a retaliação vincada no perspicaz texto II de Fernanda Cunha, sobre o filme de Phillippe Garrel.

«Na minha perspectiva, coloca a tónica da história não na intimidade de ambos mas na intimidade de cada um dos protagonistas, em separado. O que interessa não é o motivo da traição mas o que acontece depois disso.» Cunha dixit.
http://enquantooazinhoarde.blogspot.pt/2016/04/a-sombra-das-mulheres.html

E concordo.

O que assistimos é à traição (ou traições, neste caso) olhada pelo lado oposto de quem a sofre ou pratica. Em espelho explicativo-amoralizador, acentuado pela voz-off de Louis Garrel. 

A amante de Pierre, Elisabeth, deparara-se com Manon (mulher de Pierre) a traí-lo na esplanada de um café e isso deixa-a em modo «confrangido». Representa talvez a desilusão pela «integridade moral» do seu amante. É mais respeitado «o homem que trai» do que «o homem que é traído». [O facto visto do lado das mulheres (ou pelas mulheres) mudará de figura.]

Manon, quando confrontada pelo marido com o adultério que pratica, imediatamente se retrai e acaba com o namoro. Apesar de todas as suspeitas, Manon protela a confrontação pelo adultério do marido.

Pierre não deixa Elisabeth mas esta, como amante, «perde «interesse».

Manon e Pierre passam a viver separados mas a sombra alheia permanece em ambos.

Não será a traição (ou «engano», para usar uma espécie de sofisma branqueador) a quebra irreversível da confiança entre duas almas?
Quanta dessa confiança partilhada se apelidará de «intimidade»?
Nessa intimidade «dupla» onde se situa as duas intimidades individuais envolvidas, de que fala Fernanda Cunha?

Qual o conceito moral imposto ao indivíduo pela sociedade ou pela cultura desta perante o «adultério»?
Não será abuso chamar a essa imposição social «preconceito»?

[Já não estou a perceber nada… o melhor é voltar a ver o raio do filme!]

jef, abril 2016


«À Sombra das Mulheres» (L'Ombre des Femmes) de Philippe Garrel. Com Clotilde Courau, Stanislas Merhar, Lena Paugam, Vimala Pons. França / Suiça, 2015, P/B, 73 min.

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