

Contra-relógio.
Não sei se é fácil organizar a ansiedade mas Nade (Margita
Gosheva), professora de inglês, mantém a vida na justa parcimónia da razão. É
cuidadosa na sua apresentação na escola. É meticulosa a apanhar os papéis do
chão. É justa na avaliação e face ao comportamento dos alunos. Mas a sociedade
(a familiar e a outra) está contra ela. Tem de correr para que a vida não
descambe. E tudo está contra quem menos tem, quem menos pode. Nade luta até ao
fim para que o lado justo prevaleça e que a humilhação social se mantenha
dentro das exigíveis baias.
A meticulosa correria contra a adversidade sugere outros
filmes, outros actores, outras circunstâncias. A maravilhosa Gena Rowlands em
«Gloria» de John Cassavetes, 1980. A incansável Marion Cotillard em «Dois Dias,
uma Noite» de Jean-Pierre e Luc Dardenne, 2014. E claro e não comparando mas
simbolizando, Lamberto Maggiorani como Antonio Ricci de «Ladrões de Bicicletas» de
Vittorio De Sica, 1948.
O cinema serve (também) para sublinhar a Verdade.
«A Lição» é uma parábola estética sobre a condição humana,
por isso o final é quase irónico por interrompido. O confronto do olhar entre
os dois ladrões vale a conclusão moral que deixa no espectador. Um quase
sorriso de vencedora.
Quanto custa organizar a ansiedade?
Qual o preço cobrado actualmente pela dignidade?
[«Lava Jato / Panama Papers» 0 - «A Lição» 100]
jef, abril 2016
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