quarta-feira, 13 de abril de 2016

Sobre o filme «A Lição» de Kristina Grozeva e Petar Valchanov, 2014








Contra-relógio.
Não sei se é fácil organizar a ansiedade mas Nade (Margita Gosheva), professora de inglês, mantém a vida na justa parcimónia da razão. É cuidadosa na sua apresentação na escola. É meticulosa a apanhar os papéis do chão. É justa na avaliação e face ao comportamento dos alunos. Mas a sociedade (a familiar e a outra) está contra ela. Tem de correr para que a vida não descambe. E tudo está contra quem menos tem, quem menos pode. Nade luta até ao fim para que o lado justo prevaleça e que a humilhação social se mantenha dentro das exigíveis baias.
A meticulosa correria contra a adversidade sugere outros filmes, outros actores, outras circunstâncias. A maravilhosa Gena Rowlands em «Gloria» de John Cassavetes, 1980. A incansável Marion Cotillard em «Dois Dias, uma Noite» de Jean-Pierre e Luc Dardenne, 2014. E claro e não comparando mas simbolizando, Lamberto Maggiorani como Antonio Ricci de «Ladrões de Bicicletas» de Vittorio De Sica, 1948.
O cinema serve (também) para sublinhar a Verdade.
«A Lição» é uma parábola estética sobre a condição humana, por isso o final é quase irónico por interrompido. O confronto do olhar entre os dois ladrões vale a conclusão moral que deixa no espectador. Um quase sorriso de vencedora.
Quanto custa organizar a ansiedade?
Qual o preço cobrado actualmente pela dignidade?
[«Lava Jato / Panama Papers» 0 - «A Lição» 100]

jef, abril 2016

«A Lição» (Urok) de Kristina Grozeva e Petar Valchanov, 2014. Com Margita Gosheva, Ivan Burnev, Ivanka Bratoeva, Ivan Savov, Deya Todorova, Stefan Denolyubov. Bulgária / Grécia, Cores, 111 min.

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