Sobre o Grande Prémio de Conto «Camilo Castelo Branco» (C.M.
Vila Nova de Famalicão / APE) atribuído a Mário de Carvalho por «A Liberdade de
Pátio». Terça-feira, 25 de Novembro, 19h15. Biblioteca das Galveias, Lisboa.
Hoje, vá lá conhecer a razão, apeteceu-me escrever sobre os
meus escritores, aqueles que passam a vida a ampliar o Mundo, mas também pagam ao
fisco e fazem muitas contas. As de cabeça e as outras.
Hoje, prefiro pensar no prémio que darão no dia 25 de
Novembro ao livro «A Liberdade de Pátio» de Mário de Carvalho. Sim, é sabido, a
minha leitura é devota à escrita deste autor [uso aqui a palavra com o
significado de «dedicada» e não de «consagrada», pois de sagrados está o
Inferno (e o DCIAP) cheio.] E se, algum dia, eu fosse compelido a escrever uma
tese qualquer escolheria por tema as quatro direcções que levam os contos
curtos de Mário de Carvalho. Desde «Contos da Sétima Esfera» (1981), onde tais
os azimutes surgem livres e desarrumados, até a «O Homem do Turbante Verde»
(2011), onde o autor resolve distribuí-los com a parcimónia dos capítulos.
A
minha tarefa estaria bastante facilitada. Bastaria seguir o rumo dos
recipientes. A saber:
(1) consciência do Mundo e da Política
(2) consciência do Belo e da Estética
(3) consciência da Liberdade narrativa e do Realismo
(4) consciência da Imaginação, da Fantasia e do Humor.
A realidade é que, mais tarde, em 2013, o pequeno conto que
dá título ao livro «A Liberdade de Pátio» vem apresentar os quatro factores
rigorosamente multiplicados (e.g.):
(a) o confinamento inexplicado a que a sociedade vota o
professor e a sequente kafkiana liberdade pátio.
(b) o rigor estético e gráfico com que o velho guarda rabisca a carvão a escrita cantada dos melros.
(c) O círculo perfeito que o texto descreve seguindo as
viagens do encarcerado, levando-nos a uma cadeia infinita de penas e prisões,
sugerindo o ciclo infinito dos pesadelos recorrentes.
(d) O uso imaginário de masmorras (à Alexandre Dumas),
alternando o lúgubre antro repleto de invertebrados parasitas à sugestão de
lautas refeições oitocentistas, onde a hipócritas mesuras e falsas mordomias só
a transferência de penitenciária é oferecida. Tudo lhe dão nada lhe dando...
Pelo que ficou escrito, hoje, prefiro reler «A Liberdade de
Pátio». Um conto perfeito! [para uma tese por escrever].
E confesso ainda, neste espaço, nem público nem privado, que
guardo por folhear alguns livros de Mário de Carvalho (e de outros dos meus
escritores). Guardo-os como reserva moral para os dias de tempestade.
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