A metáfora do gelo.
A neve que cai sobre o porto e o mar de Manchester-by-the-Sea,
Massachussetts USA, é muito poético. O frio respira sobre as gaivotas e sobre o
drama de Kenneth Lonergan. Tolhe os movimentos, amplia o sofrimento. Anuncia a
tragédia de Lee Chandler (Casey Affleck), tragédia essa anunciada pelo fogo
nocturno. A estética do gelo a cobrir a composição de um homem desesperado, de
uma família amputada. Um cadáver por enterrar devido ao solo impenetrável, um
treino de hockey no gelo que termina em agressão, a entrada dos prédios
obstruída pela neve. A catarse quase anti-climax, quase humorística, de
Patrick (Lucas Hedges) quando descobre o congelador a transbordar de hirtas pernas
de frango.
Mas não haverá no filme um quanto exagero de figuras de
estilo?
Tanto gelo, tantas lutas no mesmo bar, tantas portas de carro
a fechar, tanto olhar interior e estático de Casey Affleck que acaba por
entregar toda a composição dramática a Lucas Hedges, o verdadeiro herói do
filme.
Tanto adagio de Albinoni e Massenet, tanta perfeição de
Haendel…
Tanto flashback que, no início, confunde a progressão da
história…
E porquê tão pouca Michelle Williams?
Um filme bonito e terno que, no entanto, faz suspirar pelos
melodramas simples e fulcrais de Douglas Sirk, John Huston, Elia Kazan, Nicholas
Ray, Otto Preminger, Clint Eastwood… «Nebraska» de Alexandre Payne (2013),
«Paris Texas» de Wim Wenders (1984), «Uma História Simples» de David Lynch
(1999)…
jef, fevereiro 2017
Concordo contigo, João. E olha que não é por ser um filme "parado". Adoro "Nebraska", por exemplo.
ResponderEliminarE, realmente, é muito Casey e muito pouca Michelle.