segunda-feira, 23 de julho de 2018

Sobre o filme «O Crime do Sr. Lange» de Jean Renoir, 1935
















Neste filme existe qualquer coisa de incoerentemente maravilhoso! Não se entende muito bem porque foi feito, para que foi feito, para quem foi feito. Temos pressa em seguir a câmara que vai à frente desaustinada. De início, não percebemos bem a conversa dos camponeses e a chegada do casal de foragidos parisienses: Valentine (Odette Florelle) e Amédée Lange (René Lefévre). Houve um crime e Valentine conta a história e pede ao povo que julgue quem atirou sobre Batala (Jules Berry), patrão prepotente, insolente, endividado, mau pagador e pior amante.

Afinal, voltamos atrás e revemos em enorme flashback toda a verdade, e a verdade gira à volta desse Batala (que fantástico é o actor Jules Berry) e das suas conquistas amorosas e das suas falcatruas e dessa cooperativa renascida que todos ajuda para que o futuro vença! O Sr. Lange é um autor de sucesso que cria histórias do faroeste: «Arizona Jim», editadas em livros de cordel pela milagrosa cooperativa! Até que surge a cena mais extravagante do filme – o jantar –, seguida das fulgurantes mudanças de campo quando Batala regressa e é confrontado no pátio junto do chafariz, por Lange. Pistola em riste….

Neste filme há tanto de poético e de belo quanto de riso. Tanto de intenção política como de psicanálise profundamente enraizada nas mudanças de paradigma revolucionário de género ou de classe ou de intelectualidade. Muito de surrealista! Muito de liberdade de improvisação! Tudo do génio de Jean Renoir ou de Jacques Prévert!

Qualquer coisa a fazer lembrar «A Canção de Lisboa» (José Cottinelli Telmo, 1933) ou «A Casa na Praça Trúbnaia» (Bris Barnet, 1928).

Um filme absolutamente maravilhoso!

jef, julho 2018

«O Crime do Sr. Lange» (Le Crime de Monsieur Lange) de Jean Renoir. Com Jules Berry, René Lefèvre, Odette Florelle, Nadia Sibirskaia, Sylvia Bataille, Henri Guisol, Maurice Baquet, Marcel, Levesque, Odette Talazac, Jean Dasté, Paul Grimault, Guy Decomble, Charbonier, Fabien Loris, Jean Brémaud, Claire Gérard, Edmond Beauchamp, Paul Demange, Sylvain Itkine, Margot Capelier, Janine Loris, Germaine Duhamel, Suzanne Magisson. Argumento: Jean Renoir e Jacques Prévert segundo a ideia de Jean Renoir e Jean Castanier. Música: Jean Wierner e a canção «Au jour le jour, à la nuit la nuit» de Joseph Kosma com letra de Jacques Prévert. França, 1935, P/B, 83 min.

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