Um
filme minucioso, cheio de pormenores e retoques, onde a actriz Sandra Hüller
representa a escritora, mãe, esposa (viúva), investigada, esmiuçada e levada a tribunal acusada
de um homicídio – Sandra Voyter.
Um
filme que entretém o espectador de modo impressionante, apesar dos pormenores e
dos retoques, apesar da duração. Um filme que parece usar (extraordinariamente)
a técnica narrativa de episódios sucessivos como é comum nos telefilmes de fim-de-semana.
Ou melhor, das mini-séries tão em voga. Três episódios: “O Caso”, “A Investigação”,
“A Acusação”.
Um
filme que toca o coração: Uma criança bonita, talentosa, com deficiência, exposta
ao massacre (e salvadora); Um cão maravilhoso (e salvador); A crise masculina sobre
a emancipação femimina e homossexual; O confronto entre a realidade e a ficção;
O fosso entre a verdade, as provas, o argumento e a justiça final.
(Mas por que razão tanto salpico? Por que razão a voz da criança sobreposta aos lábios do defunto?)
O
filme é, acima de tudo, a actriz Sandra Hüller, um papel difícil, digníssimo e merecedor
de prémios!
Um
filme de moda. Um filme que sugere ser feito à medida “realista” do digital mas
que não possui aquela aura dramática do teatro, mesmo no interior do tribunal.
E
quando se fala em tribunais (e em teatro) logo me lembro de peças únicas (para
mim claro!). O tal, o grande «Anatomia de um Crime» (Otto Preminger, 1959),
cujo nome não esconde a reverência (ou a cópia). O extraordinário «O Veneno» (Sacha
Guitry, 1951) com o maravilhoso Michel Simon a virar o bico ao prego. Ou a cena
louca neo-realista no tribunal siciliano de «Salvatore Giuliano» (Francesco
Rosi, 1962).
Comparo
o incomparável.
Contudo,
«Anatomia de Uma Queda» dá uma bela tarde de cinema ao fim-de-semana.
jef,
fevereiro 2024
«Anatomia
de Uma Queda» (Anatomie d'une chute) de Justine Triet. Com Sandra Hüller, Swann
Arlaud, Milo Machado Graner, Antoine Reinartz, Samuel Theis, Jehnny Beth, Saadia
Bentaïeb, Camille Rutherford, Anne Rotger, Sophie Fillières, Messi (o cão), Julien
Comte, Pierre-François Garel. Argumento: Justine Triet e Arthur Harari. Produção: Marie-Ange Luciani e David Thion. Fotografia:
Simon Beaufils. França, 2023, Cores, 151 min.
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