No
final de 2023 faleceu a grande escritora Filomena Marona Beja. Uma grande
mulher que fazia da investigação documental técnico-científica o fulcro da sua
vida, transpondo-o depois para uma linha de romance (novela ou conto), simultaneamente
histórico e ficcional, que se tornou incomparável.
Digamos,
Romances de acção, rápidos, pontuados pela truncagem da ordem cronológica e quase
sem partículas adjectivantes. Parágrafos curtos, períodos sintomáticos. Talvez romances
difíceis de ler para aquele leitor menos atento ou um pouco mais ensonado.
Textos exigentes e literariamente perfeitos. Romances empenhados politicamente,
quase de intervenção, buscando as parcelas mais fugidias da sociedades, aquelas
que menos atenção têm, as mais desprotegidas. Aqueles temas que afinal são os
mais suculentos.
Filomena
Marona Beja, em 2007, lança uma biografia única sobre o homem que mudou a face urbanística
e arquitectónica de Lisboa e de Portugal do Estado Novo. Duarte Pacheco. Um
homem híper-activo, agitado, imparável, que impunha regras, orçamentos e planos
de obra exigentes. De braço dado e, ao mesmo tempo, de costas viradas para
Salazar. Um homem cativante, talvez sedutor, talvez misógino. Sem tempo para
descansar, que colocou dezenas dos mais prestigiados arquitectos e engenheiros,
nacionais e estrageiros, a dar corpo ao seu pensamento. Presidente da Câmara de
Lisboa, por três meses, ministro por três vezes. O Instituto Superior Técnico e
Porfírio Pardal Monteiro. A Exposição do Mundo Português e Cottinelli Telmo. As
escolas e os telhados de Raul Lino. A zanga com Mira Fernandes. Uma Lisboa
novíssima, ampla e expropriada. A guerra na Europa e Portugal entre a espada e
a parede, mas apesar de tudo a avançar com os olhos postos na Alemanha. E
Duarte Pacheco continuava, imparável, a fazer seguir a alta velocidade o Buick Roadmaster conduzido por Joaquim
Mangas. Atrás da porta do Ministério, Venâncio Marques, o correio do Gabinete. Ainda
Luciana, Rosalina Catorze e a Estalagem em Portalegre. Disso pouco mais se sabe
mas intui-se.
«A
Cova do Lagarto» um romance enorme, plural e sincopado, justo e rápido. Adiante.
Talvez um dos melhores romances da agora desaparecida grande escritora, tão
justa quanto discreta, a grande Filomena Marona Beja.
jef,
fevereiro 2024
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