Um
homem ausenta-se de casa durante muito tempo. Quando regressa tudo o que
encontra parece-lhe estranho. Parece-lhe diferente. Não sabe se o que vê ainda
é o mesmo. Talvez esteja mesmo num outro lugar. Afinal, sente que a sua ausência
significa um “agora”. O passado já não existe. O futuro também ainda não
existe. No entanto, o “agora” é tão fugaz como um piscar de olhos, um
pestanejar. Sequer existe. O homem não gosta da frase “num abrir e fechar de
olhos”. Depois desse “agora” repentino ele apenas suspeita reconhecer aquela
janela, aquela casa… Porém, a mulher ainda é a mesma, seguramente. Contudo, ela
está em casa com o namorado, ou marido, muito mais jovem. Afinal, tudo agora é
igual ao passado mas está diferente. E o presente passa num abrir e fechar de
olhos. Que fazer, então? A janela abre-se sobre o vão de um décimo-quarto andar
e o vento sopra forte como que engrossando o ar, tornando-o denso, visível.
Jon
Fosse reflecte a ausência como uma repetição sucessiva de palavras, de dúvidas,
de regressos impossíveis, mas o texto, nesta encenação, torna-se lento,
demasiado abstracto por falta de ritmo, sem evolução, sem climax. E sem sinal
de solução, o espectador vai-se perdendo da diegese necessária, fixando a atenção
na dinâmica extraordinária que a tela no fundo do cenário revela, plasticamente
belíssima, principiando a contar a sua própria história mesmo muitos minutos
antes da entrada dos personagens em cena.
13
de dezembro de 2024
«Vento
Forte». Texto: Jon Fosse. Tradução: Pedro Porto Fernandes. Com Andreia Bento,
António Simão e Nuno Gonçalo Rodrigues. Encenação: António Simão. Cenografia e
Figurinos: Rita Lopes Alves. Luz: Pedro Domingos. Som: André Pires. Cenário:
João Pires. Produção: Artistas Unidos / Teatro Municipal Joaquim Benite. 60
minutos.
Teatro
Variedades / Parque Mayer.
De
27 de novembro a 22 de dezembro. Quarta-feira a sábado às 20h00. Domingo às
16h00.
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