domingo, 15 de agosto de 2021

Sobre o filme «A Minha Noite em Casa de Maud» de Éric Rohmer, 1969

























Apesar do filme não ter música, parece uma comédia densa daquelas do Woddy Allen, onde a seriedade do personagem principal é inevitavelmente colocada em causa pela norma (estatística) dos costumes e valores. É o terceiro capítulo dos Contos Morais.

Jean-Louis (Jean-Louis Trintignant) é um católico renitente, matemático amador na questão probabilística da média em casar com Françoise (Marie-Christine Barrault) ou na esperança ponderada em pecar naquela noite em casa de Maud (Françoise Fabian), e está permanentemente envolvido na própria voz-off com a questão filosófica das palavras anti-ciência-anti-catolicismo de Pascal.

A música está praticamente ausente. Uma sonata para violino e piano de Mozart que une Jean-Louis no concerto ao seu amigo Vidal (Antoine Vitez) que, depois, cederá em acompanhar de volta o amigo na missa do galo, onde os cânticos se ouvem e François tenta encontrar Françoise, a futura noiva auto-prometida.

Como em Woody Allen, tudo é milimetricamente ponderado e construído para que os acasos sejam ostensivos motivos teatrais. Por duas vezes vemos nevar. A primeira, estabelece a união-separação em casa de Maud. A segunda antecede a separação-união com Françoise. Afinal, Vidal não é assim muito amante de Maud. E quem é (ou foi), afinal, o amante de Françoise?

«Eu não sou digno de receber o teu corpo, Senhor, mas basta uma palavra tua para me salvares.», diz-se eucaristicamente na homilia inicial entre os olhares cruzados de Jean-Louis e Françoise. Em média, provém mais a redenção da privação da abstinência ou da provação pela infidelidade?

(E não é que o maravilhoso sorriso libertino de Françoise Fabian me fez lembrar Diane Keaton e a falsa castidade maravilhosa do sorriso de Marie-Christine Barrault me trouxe a memória Mia Farrow?)


jef, agosto 2021

«A Minha Noite em Casa de Maud» (Ma Nuit Chez Maud) de Éric Rohmer. Com Jean-Louis Trintignant, Françoise Fabian, Marie-Christine Barrault, Antoine Vitez, Léonide Kogan, Guy Léger, Anne Dubot. Argumento: Éric Rohmer com diálogos de Antoine Vitez. Produção: Pierre Cottrell e Barbet Schroeder. Fotografia: Néstor Almendros. França, 1969, P/B, 116 min.

 

1 comentário:

  1. Encontrar aqui este blogue, foi como achar um tesouro.
    Já o marquei para seguir e vir espreitar.

    (E os livros alinhados ao lado direito, como se podem conhecer?)
    Abraço

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