quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Sobre o filme «O Joelho de Claire» de Éric Rohmer, 1970























Jérôme (Jean-Claude Brialy) vai até ao lago Annecy, perto da fronteira com a Suiça, para vender a sua casa de família. É diplomata e não tarda casar-se-á e ficará livre para se entregar a todas as mulheres sem que a libido lhe transtorne o desejo. Assim explica à sua amiga romancista Aurore (Aurora Cornu), que encontra ocasionalmente, e que lhe narra quanto apreço tem ela pela sua actual solidão, podendo apreciar todos os homens sem se entregar a eles verdadeiramente. Nesse aspecto, estão irmanados. Ela propõem-lhe um jogo para que seja encontrado o enredo para o seu próximo livro. Ele será a cobaia e dever-lhe-á contar tudo. Ali perto, Laura (Béatrice Romand), uma jovem de 16 anos em férias, está por ele apaixonada. Em breve, chegará também Claire, a irmã emprestada daquela, portadora do que virá a ser o objecto de uma quimérica carícia movida mais pelo voluntarioso desafio do que pelo libidinoso desejo.

Este talvez seja o mais famoso filme de Éric Rohmer, talvez aquele em que «O Conto Moral» atinja o grau mais elevado de distanciamento sexual e provoque a mais silenciosa capacidade voyeurista na filosofia amorosa. Olhando de fora: será que desejamos com autenticidade, pretendemos desejar ou vestimos o desejo com as roupas de um simulacro de vocação, da castidade de um gesto proibido, de um olhar escondido, de uma proximidade não consumada?


jef, agosto 2021

«O Joelho de Claire» (Le Genou de Claire) de Éric Rohmer. Com Jean-Claude Brialy, Aurora Cornu, Béatrice Romand, Laurence de Monaghan, Michèle Montel, Gérard Falconetti, Fabrice Luchini, Sandra Franchina. Argumento: Éric Rohmer. Produção: Pierre Cottrell e Barbet Schroeder. Fotografia: Néstor Almendros. França, 1970, Cores, 101 min.

 

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