segunda-feira, 4 de julho de 2022

Sobre o livro «A Vida Aventurosa de Sparrow Drinkwater» de Trevor Ferguson, Cavalo de Ferro, 2007. Tradução de Luís Coimbra.


 









Este longo romance segue os passos do herói (ou anti-herói) Sparrow Drinkwater desde a sua infância passada num hospício para doentes psiquiátricos até ao seu final anti-sucesso financeiro que decorre num paraíso fiscal nas Caraíbas. Contudo, a história fulcral é a da sua mãe, mulher libertária, inteligente e esquizofrénica, Sheilagh Drinkwater que teima em afirmar que o seu filho nasceu de um corvo, tem pena que aquele afinal não saiba voar e teima em urinar ao ar livre, nos jardins.

Sparrow é manietado pelas tropelias de Sheilagh Drinkwater que começam durante a guerra, entre 1940-1957, com as armas e os soldados por perto e continuam, mais tarde, em Nova Orleães como pano de fundo, até chegar a Montreal, no Canadá. Até ao quintal da Bruxa de Bloomfield Street e ao interior da rede de túneis subterrâneos que acabam por ir pelos ares.

Depois entre 1958-1961, a idade adulta vai-se enraizando entre o dever e o rancor, a investigação e a perseguição.

Mais tarde, no final, entre 1968-1991, Sparrow Drinkwater, pelo interior de um outro labirinto, agora financeiro, juntará todas as personagens com e contra as quais lutou toda a vida. Mas nessa ilha perdida, irá conquistar um futuro que jamais será o dele.

Um romance longuíssimo com personagens bem delineadas psicologicamente, apesar de surpreender ter sido escrito por capítulos com estilo, extensão e motivação diferentes. Vendido como uma espécie de comédia entre a realidade e a fantasia mas que deixa no leitor um sistemático lastro de melancolia e revolta que nunca chega a ser emocionalmente resolvido.

Na tradição da escrita realista-fantástica nas Américas do Norte existe um mestre: John Irving. Que vivam «O Estranho Mundo de Garp» (1978) e o «O Hotel New Hampshire» (1981)!

 jef, junho 2022


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