Hirokazu Kore-eda, o realizador de «Ninguém Sabe» (2004) ou «Andando» (2008) e desse sentimento (ou noção) de família a um passo da queda entre a inquietude, o abandono e a morte, surge agora com uma espécie de trilogia onde a história é olhada por três diferente ângulos: o da mãe-viúva, Saori (Sakura Ando), o do professor, Hori (Eita Nagayama) e o do miúdo, Minato (Soya Kurokawa).
No início
permanece o incêndio num prédio onde funcionava uma casa de alterne e surge uma
suspeita que se vai adensando e desvanecendo durante o filme, por entre uma violência
iminente mas de certo modo contida por respeito e tradição. Contudo, a explicação
só a teremos na derradeira cena do terceiro capítulo. Uma história onde se
cruza o sistema de ensino primário japonês com a permanente busca de uma
tranquilidade num universo transformado. Aqui, a aproximação de duas crianças
que se procuram na busca de um conforto que não encontram nas suas famílias
incompletas. Uma procura que inclui talvez o ainda incipiente desejo-rejeição
da proximidade física.
Muito
interessante é o lema narrativo de contar os factos pela visão diversa dos
três protagonistas, pelo meio da qual se completa ainda o percurso dos
personagens que os rodeiam.
Menos
interessante é a excessiva complexidade de pormenores (trejeitos) que parece
aparecerem somente para adensar a intriga, retirando a atenção do essencial. Também
seria preferível não explicar tudo. Cada um de nós, espectadores, então completaríamos a história à sua maneira.
No fundo, todos serão violentamente inocentes.
jef,
março 2024
«Culpado–Inocente–Monstro»
(Kaibutsu) de Hirokazu Kore-eda. Com Sakura Ando, Eita Nagayama, Soya Kurokawa,
Hinata Hiiragi, Mitsuki Takahata, Akihiro Kakuta, Shido Nakamura, Yuko Tanaka. Argumento:
Yûji Sakamoto. Produção: Megumi
Banse, Minami Ichikawa. Fotografia: Ryuto Kondo. Música: Ryuichi Sakamoto. Japão,
2023, Cores, 127 min.
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