Nos discos de Fiona Apple temos a certeza de que encontraremos as palavras que identificam a eternidade de uma
compositora: Liberdade, Rebeldia, Simplicidade, Independência, Improvisação, Intuição,
Absurdo. Ou, então, Vocação para a Cantiga Inclassificável do Dia-a-Dia.
Lembro-me, assim de repente, de mulheres suas congéneres, mulheres-monumento: Meredith
Monk, Karen Mantler, Patti Smith, PJ Harvey, Leyla McCalla.
Os discos de Fiona Apple são para serem usados, não apenas para serem ouvidos. Este em particular.
As 13 canções de «Fetch The Bolt Cutters» foram
idealizadas e gravadas durante o confinamento da COVID 19, num acto de pura
libertação enclausurada. A percussão é imediata, caseira, sincopada,
interrompida pelo ladrar dos cães e dos sons improváveis. Um disco feito com a
prata da casa, que parece saído de algum estúdio independente, jovem e africano,
onde a desafinação e a palavra dita fazem parte da força como a de um trovão que
é assumidamente percutido. Um ritmo forte e doméstico onde todos
participam: Fiona, Sebastian Steinberg, David Garza, Amy Aileen Wood.
Fiona Apple tem o dom de transformar a experiência em canção, numa canção mascarada de trajes tradicionais, quase folk, quase rock, quase jazz, quase soul, quase country, quase spoken word, quase canção feminista para despertar a criança que se pretendeu embalar.
Afinal, acredito, um disco que as crianças
gostarão muito de o ouvir.
Um disco que se gosta ainda mais se, além de o usarmos, o dançarmos.
Atenção à oitava faixa “Ladies”.
«Ladies, ladies, ladies, ladies
Ruminations on the looming effect and the parallax view
And the figure and the form and the revolving door that keeps
Turning out more and more good women like you
Yet another woman to whom I won't get through
Ladies, ladies, ladies, ladies, take it easy
When he leaves me, please be my guest
To whatever I might've left in his kitchen cupboards
In the back of his bathroom cabinets
And oh yes, oh yes, oh yes
There's a dress in the closet
Don't get rid of it, you'd look good in it
I didn't fit in it, it was never mine
It belonged to the ex-wife of another ex of mine
She left it behind with a note, one line, it said
"I don't know if I'm coming across, but I'm really
trying"
She was very kind»
jef, março 2024
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