segunda-feira, 18 de março de 2024

Sobre a peça «A Beleza das Empregadas Domésticas» de Manuel Jerónimo, 2024



















Na peça existe uma latente inquietude, uma estratégia da aranha por definir. Porém, uma inquietação estratégica há muito definida, talvez mesmo vinda dos tempos homéricos ou bíblicos. Será que a suspeição e a desconfiança nasce do próprio útero da família? Caim e Abel não eram propriamente amigos. Será que a estrutura carnívora da sociedade capitalista (talvez da sociedade comercial de todos os tempos) não vem lucrar com essa espécie de doença familiar? Não se prontificou logo Abraão, o obediente chefe de todas as tribos, a encostar a navalha à carótida do seu amado filho, Isaac?

Afinal, que Anjo Caído (Manuel Jerónimo) poderá impor a justiça capitalista, qual Salomão, no negócio das duas irmãs: Marta (Juana Pereira da Silva) e Maria (Diana Costa e Silva)? Será ele mesmo o rei do lazer e da limpeza, o patrono das empregadas domésticas?

E nós espectadores como iremos compreender tal discrepância moral, melhor, como poderemos saber: quem nasceu primeiro o ovo ou a serpente?

Uma figura desce, Deus ex-maquina, D. Ana (Leonilde Melo), e conta-nos o reverso da medalha, o interior do ovo, a estrutura afectivamente amarga da dita sociedade.

Tudo parece estar contido no interior desta peça. Simples e complexa. Poderosa. Agarrada por quatro valentes actores!


jef, janeiro 2024

«A Beleza das Empregadas Domésticas». Texto e Encenação: Manuel Jerónimo. Com Diana Costa e Silva, Juana Pereira da Silva, Leonilde Melo e Manuel Jerónimo. Desenho de Luz e Operação Técnica: João Rafael da Silva. Produção: Vanessa Moreira. Promotor: Boutique da Cultura. 90 minutos

 

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