Parece
ser a definição de Amor, este filme. De um amor desejado, sonhado e, por fim,
conquistado. Daí, o happy end, apesar
de tudo. E Jacques Demy define o Amor através de Lola (Anouk Aimée), através
desse ‘apesar de tudo’, apesar desse ‘happy end’. Lola vive, Lola corre, Lola espera.
Lola ri e ama, maternalmente. E todos chegam e depois todos partem. A solidão
parece ser um espectro a pairar… O provérbio chinês dá o mote: ‘Ri quem quer,
chora quem pode’.
«Lola»
é como o corolário de um cinema passado e futuro. É dedicado a Max Ophüls e o
cabaret onde Lola trabalha assemelha-se ao ninho de afecto e de amor de «La
Maison Téllier» de Ophüls / Maupassant («Le Plaisir» 1952), Lola é um nome que
evoca Marlene Dietrich em «O Anjo Azul» (Josef von Sternberg, 1930). Lola corre
como Anna Magnani em «Belíssima» (Luchino Visconti, 1951) ou Gena Rowlands em
«Glória» (John Cassavetes, 1980). É quase um filme musical à Hollywood mas onde
tudo é feito numa espécie de Nouvelle Vague carinhosa.
O
movimento incessante da câmara atrás das imparáveis personagens que circulam
pelos cenários de Nantes, lembrando os filmes de Jean Renoir ou Jean-Luc
Godard. Todos se cruzam (ou quase se cruzam) numa espécie de alegre tristeza
pontuada pelas canções de Michel Legrand, pelo dramatismo da sétima sinfonia de
Beethoven, pela agitada suavidade de Bach ou Mozart.
O
espampanante e descapotável carro de Michel (Jacques Harden) – a lembrar certos
filmes de Wim Wenders – abre e fecha o filme em sentidos contrários aos dos
passos levados pelo desempregado e filosófico Roland Cassard (Marc Michel), do
marinheiro Frankie (Alan Scott), da jovem apaixonada e fugitiva Cécile (Annie
Duperoux) e da mãe desta (Elina Labourdette) que também foge encurralada pelo
destino. A guerra a pairar como motor da separação, as diferenças sociais como fatalidade para os desencontros.
Aqui,
as personagens são belas, bondosas e enternecedoras. Ninguém é mau. Anseiam apenas
melhor para a vida e para os outros. É impossível não nos apaixonarmos por todas
elas. Difícil esquecermos Lola.
Digamos que «Lola» toca uma Nouvelle Vague mas caridosa, enciclopédica e expressionista.
jef,
janeiro 2025
«Lola»
de Jacques Demy. Com Anouk Aimée, Marc Michel, Jacques Harden, Alan Scott,
Elina Labourdette, Margo Lion, Annie Duperoux, Catherine Lutz, Corinne Marchand,
Yvette Anziani, Dorothée Blanck, Isabelle Lunghini, Annick Noël, Ginette Valton,
Anne Zamire, Jacques Goasguen, Babette Barbin, Jacques Lebreton, Gérard
Delaroche. Argumento: Jacques Demy. Produção:
Georges
de Beauregard e Carlo Ponti. Fotografia: Raoul Coutard. Música: Michel Legrand.
Guarda-roupa: Bernard Evein. França / Itália, 1961, P/B, 83 min.
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