sexta-feira, 25 de julho de 2025

Sobre o disco «Serpentine Prison» de Matt Berninger, 2020, Concord / Caroline Int. / Book Records


















Esqueçam os The National.

Em «Serpentine Prison», Matt Berninger afasta-se temperamental e emocionalmente da sua banda e junta-se a um mundo, talvez perdido, do melhor “american (canadian) folk song book”. De Neil Young («Harvest» 1972, «Harvest Moon»1992), Bruce Springteen («Nebraska» 1982) ou Cowboy Junkies («The Trinity Session» 1988) a Lamchop («How I Quit Smoking» 1996), Feist («Let It Die» 2004) ou Willi Carlisle («Critterland» 2024)… Isto é a minha memória, claro, a falhar.

My eyes are t-shirts, they’re so easy to read

I wear 'em for you but they're all about me

They always say “I want you to take me home”

They always say “I want you to leave me alone”

Canta Matt Berninger na primeira faixa e logo me surge a magnífica sequela que Peter Bogdanovich realizou dezasseis anos depois de «A Última Sessão» (1971) – «Texasville» (1987).  Neste, um pouco enervado, Jeff Bridges (Duane Jackson) questiona Cybill Shepherd (Jacy Farrow) por que razão ela há décadas não usa uma t-shirt que não se leia.

Todo o disco parece vir de um mundo poético, puro, clarividente, triste, aguerrido e suave ao mesmo tempo, que tinha a balada por princípio fraterno e político. Um mundo que nos faz cada vez mais falta. Por isso, Matt Berninger (e os The National) continua a existir e a resistir para nós e por nós.

Na última faixa, ele coloca uma espécie de ladainha-refrão que bem representa o disco. Essa sociedade-esgoto que nos aprisiona numa falsa liberdade-democracia, esse labirinto sem saída fácil que é a tristeza depressiva que nos arrasta por um túnel de luz difícil de descortinar no final.

Total submission

I’ve seen a vision

Everyone’s screamin’

I’ve been daydreamin’

Sorry I’m fishin’

Without permission

Tell her I miss her

In a serpentine prison

Total frustration

Deterioration

Nationalism

Another moon mission

Total submission

I've seen a vision

Call electrician

Serpentine prison

Whatever it is

I try not to listen

Cold cynicism

And blind nihilism

I need a vacation

From intoxication

Tell her I miss her

In a serpentine prison

 

As melodias e as letras são do próprio. Os arranjos são de Booker T Jones (teclas) e Sean O’Brien (guitarra acústica e lapsteel). A capa é desenhada sobre a arte de Michael Carson.


jef, julho 2025


Sem comentários:

Enviar um comentário