Leio
«Um Dia na Vida de Abed Salama» (Nathan Thrall, Zigurate 2023). Recordo o filme
«O Paraíso, Agora!» (Hany Abu-Assad, 2005). Não encontro explicação, digamos
lógica, enfim para não ofender, para tanto ódio, tanta devastação, tamanha
‘perseguição-fuga’. Tudo em redor do berço da civilização mais ocidental, tudo
em nome de uma terra dita santa.
Dois
primos refugiados palestinianos, Chatila (Mahmoud Bakri) e Reda (Aram Sabbah),
vêem-se enclausurados na miséria de Atenas, após terem sido ludibriados pelos passadores
que tinham contratado por muito preço para os levarem até a Alemanha. Pelo
meio, encontram um miúdo palestiniano, Malik (Mohammad Alsurafa), e tentam
ajudá-lo a chegar a Itália onde se encontra a tia (Manal Awad). Pelo meio,
Chatila trava conhecimento com uma rapariga grega, Tatiana (Angeliki Papoulia).
Pelo meio, ainda encontram um traficante-poeta Abu Love (Mouataz Alshaltouh)
que Chatila tenta afastar do primo por motivos óbvios mas a quem no final terá
de reclamar auxílio. De refugiados ludibriados, Chatila e Reda tentam ser
passadores fraudulentos.
Num
ansioso modelo de filme policial sem policias, muito mais filme de máfia, mas
com máfias pouco italianas, tudo parece suceder a um ritmo cada vez mais
rápido, apontando para um fim que parece inevitável.
Após
o autocarro passar um longo túnel, as duas figuras criadas pelos actores
Mahmoud Bakri e Aram Sabbah surgem num plano quase suspenso de indefinição e
angústia. Os dois jovens adultos, aqui quase mais crianças e indefesos,
ingénuos e crédulos, que a criança que acabaram por ajudar. É essa igual
suspensão de personalidade, fustigada por um lado pela necessidade e, por
outro, pela bondade do coração que concede aos personagens o seu maior crédito
de fotogenia cinéfila. Actores de primeiríssima água.
Outra
figura importante na mestria dramática é dada pela actriz Angeliki Papoulia,
Tatiana, que parece fazer parar o tempo sempre que entra em cena. Outro nome a
fixar.
Um
outro dos pormenores que pode ficar escondido na angústia do ritmo narrativo é
o da fotografia e enquadramentos de Thodoros Mihopoulos que são de um apuro
quase renascentista.
Um
filme importante para ver no cinema durante os tenebrosos dias que hoje
assistimos. A bem da humanidade que existe ainda.
jef,
julho 2025
«A
Uma Terra Desconhecida» (To a Land Unknown) de Mahdi Fleifel. Com Mahmood
Bakri, Aram Sabbah, Angeliki Papoulia, Mohammad Alsurafa, Manal Awad, Munther
Reyahneh, Mohammad Ghassan, Mouataz Alshaltouh, Mohammad Alsurafa.
Argumento: Mahdi Fleifel, Fyzal Boulifa, Jason McColgan. Produção: Geoff Arbourne, Mahdi Fleifel. Fotografia:
Thodoros Mihopoulos. Música: Nadah El Shazly. Guarda-roupa: Konstantina Mardiki.
Grã-Bretanha / França / Grécia / Palestina, 2024, Cores, 106 min.
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