Quando chegamos ao final deste melodrama trágico, tão próximo
do naturalismo pós-romântico, quase operático, de séculos atrás, temos uma nota
do autor esclarecendo que a história que acabámos de ler é “um trabalho de
não-ficção onde todos os nomes são reais excepto o nome próprio de três pessoas”.
O autor é um jornalista americano de origem judaica a viver em Jerusalém, onde o
drama se passou em 2012, num dia de chuva e numa estrada em mau estado de
conservação que separa palestinianos e israelitas. As aldeias de Anata e Anatot
estão isoladas pelo temor mas unidas pela distância de uma estrada breve.
O autor consegue transmitir os insolventes contornos históricos de
um conflito com muros a crescer entre bairros segregados, postos de controlo, cartões
coloridos e discriminatórios, colonatos a ocupar sistematicamente a terra de povos
sem conciliação, obrigados ao nomadismo, num processo social próximo do
tribalismo familiar ou de clã. A construção de colonatos, a chegada dos
colonos, os acordos de Oslo, as duas intifadas, os bombistas suicidas…
O ponto de partida é Abed Salama, o pai de Milad de cinco
anos que anseia por uma viagem a um parque infantil. Depois, ao longo dos
capítulos, numa leitura imparável, conhecemos a ligação de todas as outras personagens que
se vão cruzando de modo familiar, social, político, de resistência, e, por fim, que se unem através da dor implacável.
Um romance-relato comoventíssimo que nos esclarece o incompreensível
drama eterno circunscrito a uma terra ancestral, dia prometida, dita santa, berço de uma certa civilização mais ocidental.
Um romance-relato imprescidível.
jef, julho 2025
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