Este
filme de aventuras é um filme complexo. Um filme musical, também. Avisam no
início que “Sirât” significa a ponte entre o bem e o mal, o paraíso e o inferno, tão
fino como um fio de cabelo, tão aguçado como uma espada.
A
estrada, o deserto, a guerra esperam por nós. E nós, espectadores, não estamos
seguros mas seguimos a caravana. Todas as personagens, felizes e infelizes,
aventurosas e livres no seu modo de estar longe da sociedade e perto de um
soundsystem abstracto onde o tecno e a house são o casulo de
devoção-alienação. Nós não fomos convidados. Somos instados a entrar e a
segui-los pelo campo minado entre a morte e a esperança, numa sequência alternada,
tão diabólica como simbólica de climax e anti-climax. Como se estivéssemos a
ler «Fahrenheit 451» mas escrito por um Ray Bradbury sem a sua persistente ironia
esperançosa no futuro. Como se víssemos ou ouvíssemos uma marioneta humana a
cantar «Le Déserteur» de Boris Vian mas sem a carga de revolta e recusa, mas
com a força espiritual da entrega ao sacrifício. Como se lêssemos o conto «As
Formigas» desse tal Boris Vian ou «A Auto-Estrada do Sul» de Julio Cortázar. Como
se ali espreitasse o abandono de «A Aventura» e «O Deserto Vermelho» (Michelangelo
Antonioni,1960, 1964).
Um
filme para nos devolver a vontade de ir ao cinema para nos desinquietar e discutir, formar ideais. Um filme de
aventuras, musical, de suspense, de terror, de cinemateca. Um filme de futuro.
jef,
agosto 2025
«Sirât»
de Oliver Laxe. Com Sergi López, Bruno Núñez Arjona, Stefania Gadda, Joshua
Henderson, Richard 'Bigui' Bellamy, Tonin Janvier, Jade Oukid, Ahmed Abbou. Argumento:
Oliver Laxe e Santiago Fillol. Produção:
Agustín
Almodóvar, Pedro Almodóvar, Domingo Corral, Xavi Font, Oliver Laxe. Fotografia:
Mauro Herce. Música: Kangding Ray. Guarda-roupa: Nadia Acimi. Espanha / França
/ Marrocos, 2025, Cores, 115 min.
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