O
mês de Dezembro tem destas coisas, vem sempre no final do ano, traz invariavelmente
o Pai Natal à perna, mas também oferece-nos quase sempre as melhores surpresas
musicais. E para que este ano não fugisse à regra, o Menino Jesus lá acabou por
nos pôr no sapatinho o disco mais fabuloso de 1993: «The Black Rider» - o álbum
de capa branca de Tom Waits. Depois de nos ter presenteado, no ano passado, com
um dos discos mais negros da sua carreira, «Bone Machine», mergulha ele de
cabeça no seu bem amado teatro. Junta-se a Robert Wilson (o encenador) e a
William Burroughs (o escritor) e estreiam em Hamburgo, em Abril de 1990, «The
Black Rider», uma peça baseada numa antiga lenda da Alemanha, atafulhada de
amores contrariados, pactos com o diabo, caçadores, belas encantadas e morte. E
é pelo meio de tudo isto que Tom Waits consegue fazer o impossível: reestrutura
as peças musicais, altera-lhes a sequência, introduz os sons mais irrequietos
provenientes de um grande número de instrumentos musicais, impõe a força da sua
voz destroçada, grava de forma íntima e expressionista para parecer que tudo se
passa entre o palco do cabaré e a arena do circo e, por fim, envolve a sua obra
perversa, futurista, num dos mais bizarros e interessantes grafismos (Robert
Wilson), numa dos mais conceptuais direcção e arranjos musicais (Greg Cohen).
Tom Waits põe à nossa disposição um enorme álbum onde apenas falta o suor dos
actores, o calor dos holofotes e o pó dos bastidores. A seguir de «The Black
Rider» só resta mesmo perguntar: o que é que o futuro de Tom Waits nos andará
agora a preparar?
«The Black Rider» de Tom Waits, Island, 1993
13 de Dezembro de 1993
jef
Sem comentários:
Enviar um comentário