quinta-feira, 28 de agosto de 2025

O Túlipa Negra. «Black Rider» de Tom Waits. Island, 1993



 






O mês de Dezembro tem destas coisas, vem sempre no final do ano, traz invariavelmente o Pai Natal à perna, mas também oferece-nos quase sempre as melhores surpresas musicais. E para que este ano não fugisse à regra, o Menino Jesus lá acabou por nos pôr no sapatinho o disco mais fabuloso de 1993: «The Black Rider» - o álbum de capa branca de Tom Waits. Depois de nos ter presenteado, no ano passado, com um dos discos mais negros da sua carreira, «Bone Machine», mergulha ele de cabeça no seu bem amado teatro. Junta-se a Robert Wilson (o encenador) e a William Burroughs (o escritor) e estreiam em Hamburgo, em Abril de 1990, «The Black Rider», uma peça baseada numa antiga lenda da Alemanha, atafulhada de amores contrariados, pactos com o diabo, caçadores, belas encantadas e morte. E é pelo meio de tudo isto que Tom Waits consegue fazer o impossível: reestrutura as peças musicais, altera-lhes a sequência, introduz os sons mais irrequietos provenientes de um grande número de instrumentos musicais, impõe a força da sua voz destroçada, grava de forma íntima e expressionista para parecer que tudo se passa entre o palco do cabaré e a arena do circo e, por fim, envolve a sua obra perversa, futurista, num dos mais bizarros e interessantes grafismos (Robert Wilson), numa dos mais conceptuais direcção e arranjos musicais (Greg Cohen). Tom Waits põe à nossa disposição um enorme álbum onde apenas falta o suor dos actores, o calor dos holofotes e o pó dos bastidores. A seguir de «The Black Rider» só resta mesmo perguntar: o que é que o futuro de Tom Waits nos andará agora a preparar?

«The Black Rider» de Tom Waits, Island, 1993


13 de Dezembro de 1993

jef

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