sexta-feira, 22 de agosto de 2025

Audrey Hepburn. Estrelas no Céu.











Estrelas do Céu

Quem teve ocasião de contemplar o firmamento na noite de 20 de Janeiro (de 1993), reparou por certo como ele estava claro, sem sombra de nuvens e invulgarmente brilhante. A razão deste fenómeno é simples, mas triste: acabava de desaparecer da face da Terra uma das mais luminosas estrelas do cinema mundial – Audrey Hepburn.

Audrey Hepburn foi uma mulher muito especial, daquelas cuja graciosidade e coerência, nos fará sempre tirar o chapéu e, muito humanamente, respeitar. Com o eterno ar de menina educada e frágil, mostrou um perfil de elegância e charme incomparável e um olhar de uma ternura sedutora, a que era (e ainda é) muito difícil resistir. Poucas foram as actrizes que ofereceram ao ecrã e aos seus fãs uma imagem tão bela e, ao mesmo tempo, tão inteligente.

Embora já conhecesse os palcos de comédia britânica há alguns anos, foi em 1952, com 23 anos, que chegou ao êxito da Broadway com a peça «Gigi», e à fama de Hollywood com o filme de William Wyler «Férias em Roma» (1953). Audrey Hepburn entrava como um cometa no estrelato mundial. A partir dessa altura jamais deixou de ser dirigida pelos nomes maiores do cinema americano – Billy Wilder, King Vidor, Stanley Donen, John Huston ou Blake Edwards –, e de estar rodeada de outras tantas lendas de Hollywood – Humphrey Bogart, Henry Fonda, Gregory Peck, Cary Grant, Gary Cooper ou Fred Astaire.

Em todo o mundo, o público rendeu-se ao encanto vagamente envergonhado das suas personagens, quer elas fossem Natasha (de «Guerra e Paz»), Sabrina (cujos sapatos fizeram moda) ou Cinderela (em «Funny Face»). De entre todas elas, Eliza Doolittle é aquela que perdura na memória de maior número de cinéfilos. «My Fair Lady» estreia em 1964, envolto em esplendor mas, também, em polémica. George Cukor, o mestre-realizador, impõe Audrey contra a opinião da produtora, cuja preferência ia para Julie Andrews que, nos palcos da Broadway, tinha sido Eliza durante anos a fio e com enorme êxito.

Na origem deste musical está a peça Pigmalião de Bernard Shaw, em que o artista se apaixona pela perfeição da sua obra-prima. Rex Harrison (Henry Higgins), gentleman estudioso da língua inglesa, para quem a palavra “mulher” é sinónimo de “estorvo”, aposta que uma jovem sem instrução, vendedeira de flores, irá ainda um dia às corridas de cavalos de Ascot sem ser notada. Para isso, bastaria ensiná-la a falar correctamente o inglês. Claro está que Audrey Hepburn o consegue e, no fim, prova ser uma verdadeira fair lady. E se Mr. Higgins, obviamente, se apaixona pela sua obra-prima, Cukor não o deve ter ficado menos, caso contrário como se explicaria o modo como a filmou, rodeando-a de tão magníficos actores secundários e de tão fabuloso (e discutido e caríssimo) guarda-roupa.

Pois é, enquanto paira a tristeza da sua morte, vai rodando no gira-disco a encantadora banda-sonora (Alan Jay Lerner e Frederick Loewe) onde, apesar de algumas canções serem dobradas por Marni Nixon (outra polémica do filme), lá aparece para nosso deleite, a sua voz frágil e inconfundível. Fica, por fim, a alegria de podermos rever os filmes dessa princesa, de grandes olhos e pescoço esguio, e de a recordar como o anjo que salva anjos, na sua derradeira e extraordinária aparição no filme de Steven Spielberg, «Always» (1989), ou na ajuda que prestou, quase até ao fim, às missões da UNICEF por terras de África.


p.s. e desculpando-me pela quantidade astronómica de adjectivos e nomes próprios deste texto, a que não me quis furtar, pergunto em que disco encontrarei a canção «Moon River» (Johnny Mercer / Henry Mancini), tema de outro clássico da nossa estrela no céu, «Breakfast at Tiffany's» (1961)?

 

16 de março de 1993


jef

Sem comentários:

Enviar um comentário